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Cesário Lange é uma cidade de pluralidades. Há uma troca de repertórios culturais entre gostos que se desdobram no convívio social que elenca não só cidadãos cesariolangenses mas também turistas que frequentemente passam pela nossa cidade. Dentro dessa troca de repertórios e conhecimentos, surgem um importante e delicado assunto: a maneira de falar.

Reconhecemos que Cesário Lange, tal como seus vizinhos, é predominantemente de raiz caipira e isso muito é revelado na maneira de falar dos munícipes, principalmente dos mais antigos.

Com a ascensão da tecnologia e da internet, o contato com outras línguas e com outras maneiras de falar tronou-se mais fácil e, para os mais curiosos, frequente. Tal evento fez com que o ensino da língua nas escolas fosse repensado e por consequência, modificado.

Nos cursos superiores de Língua Portuguesa sempre esteve evidente a necessidade de ser “poliglota na própria língua”, conceito apresentado por Evanildo Bechara, membro da academia Brasileira de Letras (cadeira 33). O termo insiste que a língua é viva, se transforma, varia e depende de vários contextos de uso.

Contudo, não basta apenas reconhecer a vivacidade e a diversidade da língua. É necessário saber abstrair a informação nas diversas situações cotidianas: eis o objetivo do estudo da língua.

Como conteúdo formal, muitos se inclinam em “falar certinho” e ainda a corrigir os outros, desviando-se deselegantemente do objetivo dialógico da língua. Estes atos, podem escalar até um patamar em que esbarra o Preconceito Linguístico, que segundo o conceito de Marcos Bagno, é o juízo de valor negativo (de reprovação, de repulsa ou mesmo de desrespeito) às variedades linguísticas de menor prestígio social. E que é crime.

Após ouvir uma mulher falando “cuié” invés de “colher”, uma “politicamente correta” que estava por perto correu corrigir, constrangendo a locutor do termo, que não usou da norma padrão para se referir a um objeto comum que não mudou. Ou uma “cuié” deixa de ser uma colher, fora da norma culta?

Comunicação é isso: quando o locutor fala e o interlocutor entende. Não importa se a linguagem empregada é formal ou informal, normativa ou coloquial, escrita ou falada, o que importa é que a informação foi comunicada e houve diálogo.

Infelizmente, Cesário Lange está cheio de pessoas com esta má iniciativa: corrigir as variantes linguísticas que surgem nas situações discursivas.

Logicamente, todos devem aprender a se comunicar nos diversos contextos sociais e bem utilizar a linguagem conforme exige a situação comunicativa.

Ninguém fala “errado” por falar “cuié”. Tal é apenas inadequado se a situação exigir norma-padrão. Em cada situação é pretendido uma linguagem adequada, tal como em cada cidadão é pretendido um pouco de compreensão.

LUCAS SILVA ARRUDA – COLUNISTA

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