Como um conjunto de conhecimentos baseado em princípios racionais coerentemente sistematizados, a Ciência se consolidou no ocidente a partir do século 18, ao elaborar um sistema racionalista independente da Metafísica. Essa evolução da Ciência no período moderno decorreu das condições proporcionadas pelo capitalismo, cuja consolidação requereu a contribuição científica. Mas desde o período primitivo, quando a economia da sociedade dependia da caça e da coleta, a humanidade procurou auxílio da técnica para sobreviver em um meio-ambiente desfavorável aos seus limites instintivos para se conduzir na vida. Através dessa necessidade, os povos das florestas criaram suas primitivas ferramentas de trabalho, que facilitavam a caça, a pesca e a defesa do grupo contra o ataque dos animais predadores ou mesmo de tribos vizinhas, em busca de espaço para sobreviver. Mas a criação destes instrumentos de trabalho era empírica, desenvolvida através do princípio do ensaio e erro, e sua transmissão às novas gerações acontecia através da observação e das tentativas práticas de copiar sua confecção. Satisfeitos com esse empirismo, os primitivos não retiraram dessa experiência princípios gerais ou teorias que conduzissem à formação de um princípio abstrato estimulador do desenvolvimento da ciência. Essa abstração só se desenvolveu quando a sociedade coletora evoluiu para uma economia agrícola ou de pastoreio, que determinou a transição da fase nômade da humanidade para a fase sedentária. Fixado de forma permanente em um espaço geográfico, o homem desenvolveu a agricultura, e para garantir a sobrevivência do grupo necessitou mais uma vez recorrer ao apoio de novos instrumentos de trabalho mais eficientes, até chegar à invenção do arado puxado por animais domesticados. Essa evolução possibilitou o aumento da produção agrícola, e contribuiu para a acumulação dos mantimentos produzidos, uma revolução no sistema produtivo, que gerou a divisão mais acentuada do trabalho. Nesta fase, as profissões se diversificaram, devido à necessidade da especialização do trabalho, e possibilitaram a multiplicação de novas profissões, como o artesanato, dedicado à confecção dos instrumentos de trabalho diversificados. Surgiram os marceneiros, os tanoeiros, os tecelões, os joalheiros, os pedreiros, os ferreiros, os metalúrgicos, separados do trabalho agrícola e dedicados a suas especialidades, praticadas em oficinas artesanais. Com o artesanato, desenvolveu-se o comércio, inicialmente praticado internamente em cada grupo social, mas que evoluiu para uma atividade econômica praticada entre povos diferenciados. Mas essa produção acontecia através da imitação, e além de dificultar seu aperfeiçoamento, impedia o desenvolvimento da ciência, pois era refratária ao pensamento abstrato, formulado em princípios gerais, que sustentam a evolução do pensamento científico. Desdenhada pelo mundo prático do trabalho, a Ciência surgiu nos templos dos povos antigos, através da preocupação dos sacerdotes em justificar seus princípios religiosos através do funcionamento do Universo. Foi destes templos antigos que surgiram a Astronomia, a Geometria, a Matemática, a Física ou a Biologia, mas colocadas a serviço da religião ou como elementos inerentes à religiosidade. Mas essa prática dos sacerdotes voltou-se para a solução de problemas práticos das sociedades antigas. No Egito, a Geometria, a Astronomia e a Matemática serviam para orientar os agricultores na produção agrícola, como determinar os períodos das enchentes do rio Nilo, a divisão do ano de acordo com o calendário lunar, a construção de diques que retivessem durante o ano a água procedente das enchentes. Essa evolução da Ciência na antiguidade contribuiu para o desenvolvimento das sociedades daquele período. Entretanto, era limitada não só pela sua vinculação às religiões dominantes, mas também devido ao trabalho escravo, que dificultava a introdução de máquinas na lavoura e retardava a criatividade científica. A inversão dessa resistência à aplicação prática da Ciência, tornou-se viável apenas em nossa sociedade em decorrência do sistema capitalista, baseado no trabalho assalariado, que induz o trabalhador ao consumo generalizado da produção. Enquanto na antiguidade o escravo era considerado uma máquina movente que pouco consumia, atualmente o assalariado é um potencial comprador de parcelas significativas do que o seu trabalho produz. No capitalismo, a Ciência e a Tecnologia aplicadas à produção industrial patrocinam a mais radical transformação cultural ocorrida ao longo da história da humanidade. Ao transitar dos templos antigos para os modernos laboratórios, a Ciência despoja-se da Metafísica e adota o Racionalismo Científico.
