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Rambo, como os anteriores e os atuais heróis da violência, está plantado no inconsciente coletivo da população. Considerados heróis do bem, defendem através da violência a sociedade da violência dos bandidos. E através da ação destes heróis, a prática da violência do bem contra a violência do mal torna-se a solução para a violência generalizada que amedronta a população. Esta solução é um expediente histórico, utilizado pela humanidade desde nossas origens tribais. No período primitivo, as tribos guerreavam-se pela posse dos espaços geográficos mais férteis em alimentos. Momentaneamente eficazes, essas guerras tribais se reproduziam com insistente frequência, pois a economia primitiva predadora e baseada na caça e na coleta exigia que as tribos migrassem para territórios economicamente inexplorados, e cobiçados pelas tribos vizinhas. Quando os povos primitivos se civilizaram movidos pela invenção da agricultura, transformaram-se em impérios propensos ao domínio dos povos vizinhos, conseguido através das guerras. E os povos vencidos tornavam-se escravos dos vencedores. Como esses escravos desejavam sua liberdade, resgatavam-na através da violência, que obrigava os escravistas à ampliação da violência contra os oprimidos. Nestas circunstâncias, as soluções dos conflitos de classe através da violência aumentaram o nível da violência institucionalizada, ao estimular o surgimento dos exércitos permanentes, prontos à intervenção violenta, não só contra os oprimidos, mas como sistema de defesa permanente contra a agressão dos impérios vizinhos, propensos à dominação dos impérios mais fracos. Essas guerras geraram não apenas o culto ao talento guerreiro dos reis e dos generais, mas também coletividades violentas, para as quais a solução mais adequada para a violência do povo vizinho era uma violência ainda mais eficiente, atingida pelo aperfeiçoamento das táticas de guerra, da capacidade agressiva do soldado e da melhoria da eficiência das armas utilizadas nas batalhas. Na antiguidade a solução pela violência impregnou praticamente todos impérios, e sua repetição transformou-a no critério avaliado como o mais eficiente para se resolver uma contenda ou um problema social. Como a preservação da vida é inerente a todo vivente, e apenas as minorias emocionalmente doentias da sociedade idolatram a morte, a aceitação da violência institucionalizada foi assumida pela coletividade através das ideologias de caráter violento, destiladas pelas classes dominantes, aquela pequena parcela da sociedade que se beneficiava e se enriquecia fazendo das guerras o seu meio de vida faustoso, enquanto os soldados morriam ou mutilavam-se nos campos de batalha. Com o avanço da civilização, as guerras entre os povos diminuíram sensivelmente, pois na sociedade moderna a capacidade técnica de destruição em massa do povo oponente é catastrófica, e pode destruir a vida no planeta através de uma guerra atômica. Foi um pouco pelo avanço da vida civilizada, e bem mais pelo medo de ser destruído pelo adversário, que os representantes dos países portadores de bombas atômicas decidiram promover uma paz vigiada. Mas se as possibilidades de conflitos armados mais generalizados entre os povos diminuíram ultimamente, a solução da violência social pela violência institucionalizada em muitos países, como no Brasil, ainda está fortemente enraizada no inconsciente de parcelas significativas da população. Adotada como projeto pacificador pelos segmentos mais autoritários e conservadores da sociedade brasileira, a ampliação do uso de armas pela população decorre de sua fixação arcaica na violência adotada pelas civilizações que nos antecederam. É a solução do primitivo ainda fortemente enraizada no inconsciente dessa parcela da nossa sociedade, que desconsidera a atual violência como fruto podre da miséria, da incultura e do desespero das minorias que não desfrutam das mesmas oportunidades conseguidas pela maioria da população. Ou seja, na sociedade moderna, o primitivo munido de clava, lança e espada, transformou-se no Rambo, portador de armas tecnicamente mais eficientes, admirado pelos Rambos em potencial.

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