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Editado no Brasil no longínquo ano de 1966, A Arte de Amar, livro do psicanalista Erich Fromm, frustra as ilusões de quem acredita que amar é um sentimento fácil de praticar, e está ao alcance de todo vivente. Na contramão dos livros de autoajuda, A Arte de Amar investiga porque essa arte é tão rara na sociedade contemporânea. Ao ler esta obra, o leitor toma consciência das razões que impedem a manifestação plena desse sentimento tão precioso, e pode a partir desses conhecimentos entender os motivos de suas frustrações amorosas, ou mesmo descobrir que não é um amante tão ardoroso quanto supunha. No capítulo inicial dessa obra, o autor analisa se amar é uma arte ou uma sensação agradável, fácil de praticar. Ao optar pela primeira hipótese, Fromm afirma que amar, como toda arte, precisa ser aprendida. Mas essa aprendizagem requer como prioridade o autoconhecimento do aprendiz, pois a capacidade ou incapacidade de amar decorre da história de vida de cada indivíduo. Como segunda premissa, o aprendiz dessa arte precisa saber que sua história insere-se na sociedade contemporânea, que, como toda formação social, estimula uma determinada maneira de amar aos viventes. De mentalidade consumista, a sociedade contemporânea banaliza o amor, tornando-o um ato de consumo, que se adquire como uma mercadoria, de fácil acesso, sem exigir dos amantes as qualidades necessárias à sua plena satisfação. Em seguida, Fromm expõe os conhecimentos necessários ao êxito do amante na arte de amar. Inicialmente, é fundamental que o amante supere seu narcisismo, uma fase infantil na qual a criança não separa o seu Eu do mundo exterior, e o interioriza como parcela do seu Ego. Compreensível na tenra infância, o narcisismo quando permanece na fase adulta, torna o indivíduo extremamente egocêntrico e incapaz de se doar no ato amoroso, uma atitude neurótica que desencadeia reações de dependência mórbida em relação à pessoa amada ou ao objeto do amor. Dependendo da tendência do narcisismo, o amante torna-se uma personalidade receptiva e autoanuladora, ou imperativa e dominadora em relação às pessoas com as quais convive. Se receptiva, procurará em quem ama uma pessoa da qual dependa para viver. Se imperativa, procurará uma pessoa sobre a qual tenha domínio. Mas em ambas dessas tendências o relacionamento amoroso será uma dependência neurótica, que bloqueia o relacionamento amoroso entre as pessoas. Para Fromm, a superação do narcisismo através de um desenvolvimento produtivo do indivíduo é a condição fundamental para a felicidade no amor, pois apenas as pessoas saudáveis são capazes de amar plenamente. Mas essa capacidade depende do conhecimento de que o amor é um sentimento amplo, e abrange áreas como o amor materno, o amor paterno, o amor erótico, o amor fraterno e o amor a Deus, e o indivíduo plenamente amadurecido deve praticar todas essas formas de amar. O amor materno é incondicional, pois a mãe amadurecida ama incondicionalmente seu filho, sem exigir recompensas. O amor paterno é exigente, pois o pai cobra o crescimento integral do seu filho, e pune-o pelos seus erros. O amor erótico satisfaz as necessidades afetivas e de aproximação íntima entre duas pessoas que se respeitam e visam o crescimento integral dos parceiros. O amor fraterno é dirigido a toda humanidade, independente da raça, família, profissão, sexo, nação, religião ou ideologia das pessoas. O amor plenamente amadurecido em relação a Deus se realiza plenamente quando é considerado uma plenitude inominável, que envolve toda manifestação de vida, através da superação das formas mais arcaicas de religião, que endeusam ídolos.

A arte de amar insere-se no desenvolvimento integral do indivíduo, sem o qual prevalecem as formas arcaicas de dependência neurótica no relacionamento de uma pessoa com o objeto do seu amor. Ilusória, essa dependência emocional proporciona ao amante a sensação de que está amando, mas na realidade prevalece um relacionamento neurótico com o objeto do amor. Nesta circunstância, dependência afetiva é sentida como devoção à pessoa amada, na qual o dependente encontra virtudes ilusoriamente criadas segundo suas necessidades neuróticas de dominar ou submeter-se a quem supõe estar “caído”.
A leitura do livro A Arte de Amar é como uma psicanálise do amor. Investiga os fatores neuróticos que bloqueiam a prática dessa arte, mas revela que amar está ao alcance de todo vivente que seriamente deseja superar suas neuroses para atingir a plenitude da vida.

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