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Ao iniciar o Sínodo da Amazônia, o Papa Francisco incorpora a questão ecológica ao cristianismo, uma vertente até agora secundária entre as preocupações das Igrejas cristãs. Se adotada pela Igreja católica, esta iniciativa do Papa colocará essa instituição religiosa entre as vanguardas humanistas contemporâneas que inserem o planeta Terra na interioridade da existência humana. Esta tomada de posição acrescentará à nossa existência uma dimensão planetária que concebe à diversidade da vida um significado solidário, ao desfazer-se da concepção tradicional hierárquica segundo a qual nós humanos somos superiores aos demais sistemas de vida existentes no planeta. Até recentemente, esta dimensão ecológica e planetária da vida humana esteve ausente das preocupações centrais dos sistemas religiosos e filosóficos produzidos ao longo da evolução da vida civilizada, pois historicamente a luta pela sobrevivência da humanidade concebia o planeta Terra como a inesgotável mãe protetora que proporcionava os elementos essenciais à nossa existência, e quando esta garantia era negada transformava-se na madrasta cruel e avarenta, reticente ao não suprir nossas exigências. Até recentemente, essa concepção segundo a qual o planeta é uma fonte inesgotável do que necessitamos para viver, prevaleceu entre as civilizações. Mas o avanço predador das tecnologias invasivas, desenvolvido a partir da acelerada industrialização, demonstra que o planeta Terra é uma complexidade viva, cuja diversidade precisa ser respeitada pela ação humana, pois se agredida desequilibra-se com relativa facilidade, e pode entrar em colapso. E diante das evidentes manifestações que assinalam o desequilíbrio ecológico produzido no planeta, os ecologistas foram os primeiros viventes que alertaram a civilização para o risco de sua sobrevivência, se o desrespeito aos princípios de reprodução da natureza pela civilização industrial continuar prevalecendo sobre a visão ecológica e planetária da nossa vida. E na esteira das catastróficas manifestações desse desequilíbrio ambiental, o Papa Francisco eleva sua voz consciente para alertar a sociedade sobre a iminência de desastres maiores no meio ambiente que poderão resultar no risco à nossa sobrevivência. Inserida na preocupação cristã de salvação da humanidade, a questão ecológica toma uma dimensão ética religiosa, que irmana-se à preocupação científica, e possibilita a unificação dessas duas fundamentais vertentes da cultura humana, até recentemente separadas por seus princípios divergentes, motivados por enfoques ideológicos diferenciados. Este é um precioso e raro momento histórico em que religiosos e cientistas convergem para a solução de um problema vital para a sobrevivência da humanidade e da diversidade da natureza. Consciente de que as atuais crises existenciais da Igreja católica são sintomas de uma frágil adequação de seus princípios às contradições da sociedade contemporânea, Francisco I volta-se à simplicidade das mensagens evangélicas, cuja ética cristã é aplicável ao quotidiano de cada um de nós. E ao despertar a apática opinião pública para a gravidade do problema ambiental, demonstra como cada cristão pode tomar consciência e viver segundo os princípios do cristianismo em seu quotidiano, e merecer sua felicidade eterna. Ao associar-se aos cientistas nesta cruzada pela salvação da Amazônia, como um passo inicial para impedir a destruição da natureza, Francisco I demonstra que ciência e religião não se antagonizam em relação ao que é fundamental para a sobrevivência da humanidade. Pelo contrário, se ambas rompem-se dos seus casulos, e crescem substanciadas no conhecimento e na solidariedade humana, os frutos desses crescimentos amadurecerão em benefício de todos nós, milhares de viventes que compõem os habitantes e a vida diversificada do planeta Terra, a morada de todos nós, rios, mares, árvores, peixes, pássaros, animais e humanos. O jardim do Éden é um poético símbolo dessa convivência harmoniosa e fraterna entre os viventes. É esta imagem arquétipa que Francisco deseja transformar em vida contemporânea.

 

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