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Quando lecionava História na escola, alguns alunos afirmavam que não gostavam dessa disciplina porque o passado estava sepultado, e o que nos importa é o presente ou o futuro. Mas esta concepção de vida contraria a evidência de que o presente é uma construção tecida no passado, e o conhecimento da nossa historicidade é fundamental para planejar o futuro da civilização. Psicanalistas, historiadores e filósofos concordam que se destruirmos a vida civilizada, voltaremos à barbárie primitiva, e bastarão algumas gerações vivendo nesse ambiente cultural para que a coletividade se comporte como nossos ancestrais primitivos, pois nosso passado está gravado no inconsciente coletivo, à espera de um retrocesso histórico para se manifestar. Para declarar que se inviabilizarmos nosso futuro voltaremos à barbárie, é necessário conhecer o que aconteceu na História. Mas esse conhecimento é um empreendimento cultural amplíssimo, lento e paciencioso, que requer a contribuição sistemática de pesquisadores dedicados ao campo do conhecimento próprio das ciências humanas. Para consolidar a Psicanálise como uma ciência humana respeitável, Freud construiu uma interpretação da evolução humana que proporcionou-lhe uma perspectiva do futuro da humanidade. Esta sua visão da humanidade foi posteriormente corrigida por psicanalistas criativos, que consolidaram uma nova visão dessa evolução. Esta correção de rumos demonstra que as ciências evoluem através das retificações de seus enunciados, e seguem um roteiro que enriquece o conhecimento científico. Pioneiros da Antropologia, como Morgan e Bachofen, estabeleceram os postulados dessa ciência dedicada ao estudo dos povos primitivos, mas antropólogos que os sucederam corrigiram muitos dos seus postulados, e o resultado dessas correções foi o conhecimento mais próximo de como viviam nossos ancestrais desse período histórico. A História, como um relato descritivo racional dos acontecimentos iniciou-se na Grécia antiga, através de historiadores como Heródoto e Tucídides, mas esta concepção da historicidade foi corrigida pelos historiadores do período moderno da nossa sociedade, possibilitando o surgimento de novos métodos interpretadores dos fatos históricos. Entre estes reformadores, estão Hegel e Marx, que introduziram o método dialético de interpretar a História, e proporcionaram a essa ciência novas perspectivas para o conhecimento do nosso passado e sua conexão com o presente. A Filosofia, preciosa descoberta dos gregos antigos, contribuiu significativamente para enraizar na sociedade o pensamento racional, construtor das ciências contemporâneas e fator decisivo para a formação da civilização dos nossos tempos. Filha rebelde dos mitos antigos, a Filosofia durante muito tempo cultivou suas raízes idealistas, mas nos meados do século 19 corrigiu essa visão e modernizou-se ao adotar o método dialético de interpretar a realidade, acoplando-o à ciência histórica, uma simbiose luminosa que proporcionou a plenitude à História como intérprete da evolução humana. Entretanto, não são somente as ciências humanas que se integram na interpretação da História, pois as Artes trazem sua valiosa contribuição para o conhecimento do nosso passado. Historiadores das Artes colocam-nos diante das maravilhas da arte pictórica primitiva, construídas no interior das cavernas, e cuja principal finalidade era integrar-se aos cultos religiosos desses povos. A comparação dessa arte muralista com a nossa arte contemporânea demonstra a evolução e as funções específicas das artes em cada cultura histórica, completando a visão estrutural sobre o que é a História e sua importância como guia cultural da construção humana, desde suas origens até chegar à atual sociedade permeada pelas ciências e pelas técnicas.
Além de gratificante e inspirador para quem estuda sistematicamente a História, o seu conhecimento é uma imprescindível necessidade para a condução do conjunto da nossa sociedade, e desconhecê-la é reduzir a vida às suas necessidades elementares. Todavia, quem enfrenta a tarefa de conhecer o que aconteceu à humanidade, torna-se mais lúcido e consciente do turbilhão que mobiliza a vida contemporânea. Conhecer História é ter consciência dos limites da nossa civilização: -se não a transformarmos, tornando a vida digna de ser vivida, continuaremos no caminho da destruição do que até agora construímos. As nocivas mudanças globais, motivadas pela poluição ambiental, ou a incapacidade do capitalismo de gerar uma sociedade planetária solidária, nos advertem da possibilidade iminente de um retrocesso da vida civilizada.

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