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Sou um pensador libertário, equidistante dos extremismos ideológicos, mas simpatizo-me com Ângela Merkel, a chanceler conservadora da Alemanha, pois seu pensamento conservador é lúcido e distante do sectarismo da direita reacionária, como é o pensamento de Jair Bolsonaro, ou da esquerda autoritária, como é o governo de Maduro na Venezuela .

Criticada por investir generosamente na área cultural, Ângela Merkel respondeu que se esse investimento daqui 500 anos contribuir para o surgimento de compositores como Bach ou Beethoven, estará plenamente justificado, pois são essas personalidades que contribuem para o refinamento da humanidade. E quando a oposição criticou-a por receber os refugiados dos conflitos árabes, a chanceler respondeu que, além de ser uma questão humanitária, são os imigrantes os responsáveis pela realização de serviços braçais que os trabalhadores alemães se negam a fazer. Compare essas alternativas governamentais com as soluções propostas por Jair Bolsonaro, como a decisão de facilitar o porte de armas pela população como critério de protegê-la da bandidagem. Para refinar culturalmente a humanidade, Merkel propõe a música erudita, e aposta no exemplo de Bach ou Beethoven, enquanto Bolsonaro propõe armar a população, apostando no exemplo de John Wayne, pistoleiro enaltecido nos filmes de faroeste.

Merkel e Bolsonaro representam a maioria dos eleitores dos seus respectivos países, e seus planos governamentais resultam desses consensos coletivos momentâneos. O eleitorado alemão já votou em governos menos conservadores, mas no início do século passado apoiou um nazista, que devastou a Alemanha e incendiou o mundo civilizado. O eleitorado brasileiro já votou em Lula, e no início da década de 60 do século passado apoiou a ditadura militar. As decisões eleitorais são ondas ideológicas que dominam a sociedade em determinadas épocas. Elas estimulam avanços ou retrocessos ideológicos na sociedade, mas não seguram o desenvolvimento da economia, que caminha aceleradamente rumo à globalização. Merkel reflete o bom momento do desenvolvimento da economia alemã, uma das mais sólidas entre os demais países. Bolsonaro reflete o desespero da população diante da crise econômica que há vários anos angustia a população. A onda Merkel é mais duradoura e estável, pois alicerça-se em um país de cultura refinada, onde os direitos humanos e o padrão de vida da população são garantidos por sua economia de primeiro mundo. Bolsonaro, como Jânio quadros e Fernando Collor, será uma onda passageira, pois alicerça-se em frágeis ilusões da atual maioria do eleitorado, descrente com os políticos de carreira, mais preocupados com seus interesses corporativos, e menos com os interesses da coletividade. O Brasil já foi governado por presidentes ilustres como Juscelino Kubistchek e Fernando Henrique Cardoso, homens públicos dignos desse título, que governaram o país democraticamente e através de decisões progressistas, responsáveis pelos períodos históricos de pleno desenvolvimento da nação. Infelizmente foram governos passageiros, sucedidos por presidentes demagogos como Jânio Quadros e Lula, promotores de desenvolvimentos efêmeros, que posteriormente acarretaram sérias crises econômicas e sociais. Mas a política predominante em países de economia periférica, como é a do Brasil, é uma instituição que avança através de crises contínuas, com raros momentos de lucidez coletiva, sucedidos por momentos de falsas esperanças proporcionadas por demagogos, que se aproveitam do desespero do eleitorado, e apresentam-se como salvadores da pátria. Contrariando esse trágico panorama, a Alemanha é um país economicamente desenvolvido, e culturalmente amadurecido, ou seja, tem as bases necessárias para o florescimento de governos lúcidos, como o de Ângela Merkel, embora considerado conservador. Mas na Alemanha, nenhum governo conservador proporia armar a população para defender-se da violência urbana. Por este exemplo, entende-se a diferença entre um governo conservador alemão e um brasileiro. O conservador alemão é civilizado, e o conservador brasileiro um bronco.

Gilberto Radicce

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