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Desculpem meus pacientes leitores se os perturbo com minhas preocupações existenciais, mas não tenho melhores confessores para descarregar minhas intimidades. Desde os dezessete anos leio sobre o revolucionário Karl Marx, e até hoje não resisto a essa mania de ler uma nova obra sobre esse polêmico personagem. Por estar aparentemente fora do turbulento foco dos contraditórios caminhos da sociedade capitalista de hoje, Marx descansa das investigações de seus comentaristas, mas há alguns anos uma talentosa escritora e jornalista, Mary Gabriel, colocou novamente o Mouro (apelido de Marx entre seus amigos) no centro do polêmico cenário intelectual contemporâneo. E quando ingenuamente já acreditava que conhecia quase tudo sobre sua vida e obra, quebrei o bico e mordi a língua, pois ao ler Amor e Capital terminei sua leitura surpreso com as novas narrativas sobre o dramático labirinto que constituí sua trajetória de revolucionário. Mas do refluxo dessas calorosas polêmicas, surge das cinzas uma nova Fênix escrita caprichosamente por Mary Gabriel, Amor e Capital, um elogio ao talento feminino de compreender a vida. Não há nessa obra a falsa objetividade acadêmica dos cavalheiros que escreveram obras atacando ou ofendendo Marx unilateralmente. A sensibilidade feminina da autora conduziu seu talento para trazer o foco do drama da família Marx para sua dedicada companheira e esposa inseparável: a dama de família nobre, que abdicou desse status de nobreza e aderiu incondicionalmente aos planos revolucionários do marido. Seu nome é Jenny Von Westphalen, mas tornou-se Jenny Marx. Essa mulher apaixonada pelo marido e sua obra revolucionária, ao lado do amigo Friedrich Engels, foi o alicerce sobre o qual Marx construiu sua teoria e suportou uma vida agitada, cotidianamente cheia de tropeços intransponíveis para os destituídos de ideais humanitários. Muitos comentaristas de Marx construíram biografias camonianas desse personagem, colocando-o como herói ou vilão nessa história, de acordo com a tendência ideológica de cada biógrafo. Entretanto, Mary Gabriel, seguindo sua bússola feminina, escreveu uma obra dramática, colocando o destemor e a ousadia do biografado em seus devidos lugares nessa peça teatral. Mas Amor e Capital é uma obra rigorosamente histórica, atestada por sólida biografia e requintada análise. Porém, pode ser lida como um romance qualificado pela força inspiradora da escrita de sua autora ao associar os acontecimentos políticos e sociais da época, inseridos na luta entre capitalistas e proletários no início do capitalismo, e os sofrimentos constantes que estes conflitos produziam na vida dos revolucionários. Nessa narrativa, envolvendo o heroísmo dramático desses revolucionários à vida miserável dos proletários ingleses, ressaltam descrições tão realistas como os enredos de Charles Dickens. Afloram então os horrores da vida desses proletários, trabalhado por míseros salários durante mais de 12 horas diárias, em fétidas indústrias e habitando cubículos em bairros operários sem nenhuma infraestrutura para garantir-lhes um mínimo de dignidade humana. A história viva desses explorados pelo Capitalismo, escrita por uma autora sensível aos sofrimentos humanos, distancia-se da história cinzenta narrada por sisudos acadêmicos, que transformam os personagens vivos em abstratas categorias sociais. Para o raciocínio de Marx, amor e capital são incompatíveis, pois o capital, ao estimular as lutas de classe inibe o amor pleno entre os indivíduos. E Mary Gabriel acrescentou que o amor de Marx e Jenny nutriu-se na luta de ambos contra o capital, responsável pela brutal exploração dos proletários. A obra de Mary Gabriel é também um convite à leitura de O Capital, obra fundamental de Marx para compreender sua crítica ao Capitalismo.

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