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Por Gilberto Radicce

Cada tempo histórico requer lideranças políticas de acordo com suas exigências. Tempos mais amenos e estáveis requerem estadistas equilibrados como seus governantes. Tempos mais tumultuados e instáveis produzem líderes emocionalmente desequilibrados e mais propensos a acessos de desvarios. Em seu período mais próspero, Atenas teve como dirigente o laureado Péricles, um estadista brilhante que soube administrar com reconhecido equilíbrio a sociedade ateniense de sua época. Em sua fase imperial, Roma antiga contou com o equilíbrio dos primeiros imperadores para prosperar, mas quando entrou em crise, foi governada por imperadores desequilibrados emocionalmente, como Nero. Nossa sociedade também não está isenta dessas flutuações entre seus governantes. Em seus períodos de esplendor os Estados Unidos foram governados por presidentes estadistas, como Abraham Lincoln, mas em sua atual fase de tumultos tem como presidente Donald Trump, um megalomaníaco arrogante, de gestos teatrais, ovacionados por seus seguidores mais fanáticos, formados pelos segmentos xenófobos das classes médias americanas. Como os atuais tempos tumultuados que se apoderam da sociedade norte-americana é uma parcela do tumulto que predomina na atual fase da sociedade contemporânea, a insanidade de Trump choca-se com a insanidade de governantes de outros países, e coloca lenha no caldeirão internacional. O seu mais atuante antagonista é o Irã, dominado por aiatolás fanáticos, a serviço de um Alá construído pelos sectários islamitas, dispostos a colocar fogo no mundo em nome dos suas insanidades. No Brasil, já tivemos presidentes estadistas, como Juscelino Kubistchek, governantes em períodos históricos condizentes com suas personalidades agregadoras. Mas na atual crise estrutural da sociedade brasileira predomina a personalidade desagregadora de Jair Bolsonaro, um maniqueísta que divide as ideologias atuantes no cenário político brasileiro em forças do Bem em luta perpétua contra as forças do Mal. É essa mentalidade maniqueísta, impulsionada pelos sectarismos ideológicos, que amplia as crises políticas contemporâneas e contribui para tumultuar ainda mais as contradições internas da nossa sociedade. É evidente que atualmente há estadistas moderados e conciliadores, que pretendem ampliar o diálogo entre as nações, visando soluções pacíficas e frutuosas para os problemas contemporâneos, como Ângela Merkel, chanceler alemã. Mas diante do turbilhão incentivado por líderes intempestivos como Trump ou os aiatolás sectários, suas estratégias pacificadoras se dissolvem no tumulto generalizado predominante no relacionamento entre as nações. Mas o progresso existe, e a sociedade avança ondulante, com sucessivas fases de ondas altas e baixas. Nesse movimento, as ondas baixas de hoje estão acima das ondas baixas de ontem, e esta ascensão contínua das ondas atesta a evolução constante e dialética da civilização. Na década dos anos 50 e 60 do século passado, a pensadora Hannah Arendt escreveu sobre os tempos dos homens obscuros, sectários que exploraram as contradições imperantes naquela sociedade, e impuseram as soluções autoritárias dos regimes fascistas indicados como remédios definitivos para os problemas da humanidade. Segundo Hitler, o Terceiro Reich duraria mil anos, e essa extravagância histórica de um fanático insano, agregou milhões de seguidores, e até meados da Segunda Guerra Mundial parecia uma tese vitoriosa. Entretanto, a sociedade daquela época soube forjar líderes estadistas que detiveram aquela onda avassaladora, e reconduziram a sociedade contemporânea ao seu caminho evolutivo. Como as ondas, a onda baixa predominante na época dos regimes fascistas reverteu-se em onda de maré alta, favorável ao convívio fraterno entre as nações. Mas essa onda alta, que segundo líderes da época inauguraria um prolongado período de paz, cedeu a novos tempos obscuros, permeados pela Guerra-Fria e o temor generalizado de que a civilização poderia ser destruída por uma guerra atômica entre os Estados Unidos e a União Soviética. E mais uma vez o cenário político internacional foi protagonizado por líderes mundiais insanos, que, entretanto, foram detidos pela ação de estadistas lúcidos e moderados. E depois de um prolongado período de relativa tranquilidade, a sociedade atual está a mercê de homens obscuros, pálidos herdeiros dos fascismos hoje decadentes. Entretanto, o progresso existe. Trump e os aiatolás sectários poderão permanecer como estrategistas dominantes ainda por um certo período histórico, mas nossa robusta sociedade, permeada pelo racionalismo oriundo das espetaculares descobertas científicas, reverterá esse período de maré baixa, para inaugurar um possível período de ondas altas, quando então uma generalizada mentalidade ecológica respeitará tanto as leis produzidas pela sociedade como as leis próprias da natureza. Prevalecerá, então, uma política fraterna entre os povos, substituta da atual política nacionalista e desagregadora.

Gilberto Radicce

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