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A sociedade contemporânea passa por um momento conservador, pois uma onda conservadora invade a maioria dos continentes, incluindo nesse movimento os países mais civilizados da Europa ocidental. É a dialética da história civilizada em sua fase de retrocesso, um momento que antecede a uma nova fase revolucionária da sociedade, em gestação nos bastidores da evolução humana. A sociedade contemporânea é a mais dinâmica das sociedades que a precederam, impulsionada pelo estilo de vida alucinante adotado pela maioria da população. A ansiedade coletiva pelo consumo das novas tecnologias fornecidas pelo sistema industrial envolve a população nessa onda consumista, que devora os valores culturais cultivados até recentemente, e muitos dos quais considerados primordiais. Mas estes valores tradicionais, longamente assimilados pela população, ainda resistem às mudanças culturais impulsionadas pelas concepções de vida modernas, determinadas pelas novas formas de produção industrial que geram as tecnologias, e estabelecem um novo padrão de vida coletiva. Ao gerar conflitos existenciais na consciência de cada indivíduo, a multiplicidade de valores culturais prevalecentes em nossa sociedade, produz no inconsciente coletivo uma sensação de dúvidas e incertezas na vida de cada indivíduo, e conduz a maioria da população a tomar uma cautelosa postura conservadora. Entre a certeza proporcionada pelas tradições e o desconhecimento das consequências de novos padrões culturais, a maioria da população, nesses momentos de dúvida, adere ao confortador conservadorismo. Mas esse conservadorismo não consola plenamente os indivíduos, pois um incômodo, mas atraente modelo de vida está presente em seu cotidiano, estimulando-os à adesão do que o sistema industrial produz para o consumo de todos nós. Como o consumo dessa produção requer uma nova mentalidade coletiva, cedo ou tarde sua ética prevalecerá sobre a ética conservadora restante do passado ainda insepulto no inconsciente de cada indivíduo. E, através desta dinâmica dialética, o conservadorismo se dilui no coletivo e uma nova fase histórica de avanços e mudanças sociais prevalecerá sobre o momento conservador dominante na maioria dos países.

No Brasil, a tendência coletiva conservadora se cristalizou na eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República. O bolsonarismo, que empolgou a maioria da população, parcialmente foi uma resposta aos desmandos do petismo, que ao governar promoveu muitas reformas benéficas aos segmentos menos favorecidos da população brasileira, mas jogou na cesta do lixo esses avanços ao permitir a proliferação endêmica da corrupção nas esferas estatais. Mas Bolsonaro é também a voz do conservadorismo cultivado pelos segmentos conservadores da sociedade brasileira, acompanhados por parcelas despolitizadas da população.

Facilitar o uso de armas de fogo pela população para garantir a segurança pública é um retrocesso à época dos faroestes; cortar verbas para a área da educação é contribuir para o florescimento da incultura; ouvir a opinião de um guru místico sobre assuntos governamentais é falta de sintonia com a modernidade. Mas Bolsonaro tem o apoio de segmentos significativos da população e de parcelas substanciais do empresariado, atônitos diante da crise estrutural que se apoderou da sociedade brasileira nos últimos anos. Em circunstâncias históricas ainda mais trágicas, nas primeiras décadas do século passado, uma profunda crise estrutural resultou no apoio das classes médias da Alemanha a Hitler, um aventureiro conservador, que eleito chanceler pelo respaldo do voto popular, transformou a democracia alemã em uma ditadura nazista. É evidente que no momento não há clima para a escalada de um governo ditatorial no Brasil, mas um insano embrião cravado no interior da classe média brasileira apoia essa alternativa para a solução dos nossos problemas coletivos.

O conservadorismo inicialmente ilude parcelas significativas da população, mas posteriormente mostra o reverso da medalha. Recomeça, então, o período progressista da sociedade.

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