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A democracia moderna evoluiu a partir da Grécia antiga, ofuscou-se durante o período medieval, e ressurgiu durante o tempo moderno. Sua evolução histórica aconteceu na Europa, e expandiu-se quando as colônias americanas e africanas tornaram-se independentes do colonialismo europeu. Na sociedade moderna, suas origens ideológicas enraízam-se no processo histórico da formação da burguesia, que no início dos tempos modernos precisou adotar uma ideologia própria para justificar sua existência. E para tornar-se hegemônica, na sociedade contemporânea precisou conceder direitos econômicos, políticos e sociais às classes média e operária, contribuindo através dessas concessões para a sua evolução, ao possibilitar sua extensão ao conjunto da sociedade. Consagrada por proporcionar direitos iguais a cada indivíduo, independente da classe social a qual ele pertença, o sistema democrático evolui através de uma dinâmica sustentada pela mediação dos conflitos de interesses antagônicos entre as diversas classes sociais que compõem a estrutura da sociedade. E dependendo das correlações de força entre essas classes, a democracia sofre recuos ou avanços, através de uma dialética que demonstra a necessidade de um diálogo permanente entre seus agentes sociais para que se reproduza ao longo da história. Em cada país, a democracia avança ou regride como resultado desses conflitos sociais, quando prevalece o interesse de uma determinada classe social em detrimento de outras. Desde o início da idade moderna, a sociedade europeia é palco dessa dinâmica histórica, e demonstra como ela gera conflitos sociais, que muitas vezes são decididos através de revoluções, cujo resultado é a hegemonia de uma classe sobre sua opositora ideológica. Na Inglaterra, a Revolução puritana de 1642 a 1651, liderada por Oliver Cromwel, e na França a Revolução francesa de 1789 a 1792, resultaram na vitória da burguesia, inspirada nos ideais democráticos, sobre a nobreza feudal de formação corporativista. Vitoriosa, a burguesia colocou em prática a democracia, mas circunscrita nos limites de seus interesses, ao negar uma Constituição que atendesse aos interesses do proletariado, classe social emergente em decorrência da evolução do capitalismo. Classe em ascensão desde os meados do século 19, o proletariado não tardou em reivindicar seus direitos de cidadania, cuja aplicação requer uma luta permanente para obter da burguesia concessões que ampliem a vigência de uma democracia mais abrangente, e reverta na extensão de igualdade ao conjunto da sociedade. Além da burguesia e do proletariado, a evolução do capitalismo gerou a classe média, formada pela elite operária bem remunerada, profissionais liberais, pequenos burgueses, comerciantes, funcionários públicos mais graduados, que alternam seu apoio à burguesia ou ao proletariado, dependendo de sua situação econômica. Ao expandir-se da Europa à América, o capitalismo implantou-se no Brasil, onde encontrou as barreiras de seu passado colonial, que impedem o seu pleno desenvolvimento, e limitam o avanço da democracia neste país, ao favorecer o surgimento de ciclos explosivos de ideologias autoritárias no cenário político nacional. No atual cenário, após uma década de predomínio do lulismo, identificado com as ideologias de esquerda, surgiu o bolsonarismo, que apesar de rotular-se de neoliberal, na prática adota uma ideologia de extrema direita, identificada com um sistema de governo autoritário, centrado nas ações do presidente da República. E para fortalecer os poderes do presidente, sua ala mais radical encena espetáculos públicos, que pedem o fechamento do Congresso nacional, do Supremo Tribunal, atacam a imprensa, e fazem apelo para a intervenção militar para legitimar os poderes do chefe carismático. E através desse programa autoritário, isola-se cada vez mais no cenário político nacional, ao considerar quem não é bolsonarista como adversário do bolsonarismo. E com tantos inimigos inventados, justifica sua conduta antidemocrática através da teoria da conspiração, fruto doentio da mente psicopata, partilhada por muitos indivíduos provenientes da classe média despolitizada, que encontram nas ideologias autoritárias motivos para participar do processo político nacional como salvadores da pátria amada, ameaçada pelos subversivos imaginários que se propõem a combater. Quando os extremos ideológicos predominam em um país, forma-se um clima de medo ou de apatia na sociedade, prejudicial ao avanço da democracia, e retarda as soluções dos problemas estruturais do país. Entretanto, essa anomalia gera também um antídoto saudável em parcelas significativas da população, que lentamente reagem, e em seguida se opõem à teatral manifestação de forças das tropas de choque que defendem o autoritarismo, promotoras de espetáculos que aparentam força e poder, mas revelam-se frágeis ao agir como certas tribos africanas de pigmeus, que iam às guerras tribais com máscaras horrendas como tática para compensar a própria fraqueza e tentar amedrontar os inimigos. Historicamente, as ditaduras tomam o poder pela força, mas acabam caindo, derrubadas pela própria fraqueza. Para resolver os problemas da democracia, mais democracia, pois sua força está no poder da liberdade. Os filósofos gregos já sabiam desse poder, oriundo da Razão humana, e através da Filosofia iluminaram a modernidade. Essa luminosidade redentora iluminou a maioria da sociedade brasileira, que segundo pesquisa realizada pelo Data Folha indica que 75% da nossa população apoia a democracia, e não deseja o retorno da ditadura.

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