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Embora desacreditado após a queda do regime soviético, para os intelectuais de esquerda o socialismo continua a alternativa histórica ao capitalismo. E justificam essa alternativa porque apesar dos avanços ocorridos na sociedade capitalista, neste sistema a riqueza produzida pelo trabalho dos assalariados concentra-se nas mãos do capitalista, sobrando pouco ao conjunto da sociedade. E quanto à queda do regime soviético, afirmam que esta foi o fracasso de um modelo autoritário de socialismo dominado por uma burocracia autoritária, mal formada ideologicamente, que monopolizou o Estado através do partido único, e controlou rigidamente os críticos socialistas daquele regime, porta-vozes do socialismo libertário, acessível a novas experiências socialistas. O resultado da falta de uma oxigenação ideológica do sistema soviético foi a formação de uma sociedade apática à crítica interna e acomodada à vontade do Estado. Ao longo do tempo essa letargia coletiva afetou o sistema de produção, incapaz de concorrer com os avanços da sociedade capitalista. Responsável pelo sistema produtivo inoperante, o Estado agigantado ruiu através de crises sucessivas, sem que a sociedade lamentasse esse acontecimento histórico. No cerne do socialismo autoritário está a ideologia autoritária de Lenine, o líder da revolução bolchevista, que interpretou rigidamente o pensamento de Marx, transformando sua filosofia libertária em um cânone inviolável, refratário à troca de experiências socialistas alternativas, que poderiam estimular alternativas ao modelo leninista. Ao confundir uma das crises cíclicas do capitalismo com sua decadência final, Lenine decidiu explorar as contradições dominantes na Rússia czarista e, através do organizado partido bolchevista conseguiu o apoio dos operários russos e tomou o poder do czar, instituindo paulatinamente um Estado dominado pelos seus partidários. Ou seja, contrariando a opinião de Marx, que propunha a vigência do socialismo primeiro nos países mais industrializados, Lenine implantou esse sistema no país mais atrasado da Europa, dominado por uma economia agrária de feições feudais. Como consequência dessa precipitação, o governo socialista implantado na Rússia precisou dar dois passos atrás no seu rumo ao socialismo e promover um cruel programa de capitalização, através da exploração desapiedada da classe camponesa, que gerou protestos generalizados, constantemente reprimidos pelo Estado. Cego diante das críticas dos dissidentes socialistas, que propunham um regime de liberdade como o dinamizador do socialismo, conforme Marx havia proposto, Lenine insistiu em levar avante o seu modelo, e quando prematuramente morreu, seu sucessor, Josef Stálin, fechou ainda mais o cerco aos dissidentes, eliminou-os através de julgamentos unilaterais, e estabeleceu, em nome de Marx, o seu próprio modelo autoritário de socialismo, que considerava necessário para tirar o país do atraso e igualá-lo às condições dos países ocidentais mais avançados. Para atingir esse fim e livrar-se do isolamento internacional liderado pelo ocidente, Stálin estimulou a organização de partidos comunistas nos países ocidentais, que funcionavam como suas sucursais ideológicas. Nestes partidos predominou a concepção autoritária de socialismo, e toda dissidência interna era considerada como agente do capitalismo, e contribuiu para predominar em cada país onde agia a visão de que o socialismo identificava-se com o modelo stalinista. Mas esses partidos alinhados a Moscou não impediram no ocidente o surgimento de dissidências que propunham a vigência de sistemas de socialismo libertário, que seriam implantados somente quando o capitalismo atingisse o seu pleno desenvolvimento, e abrisse caminho para a formação de uma sociedade socialista com garantias das liberdades coletivas e individuais, através das quais o conjunto da sociedade avaliaria os seus rumos. Ao saber que o capitalismo continua produzindo suas crises internas, mas ainda está longe de se esgotar para ser substituído pelo socialismo libertário, os pensadores socialistas propõem que os partidos de esquerda e socialistas se unam em torno de programas de governo que priorizem basicamente a solução das necessidades básicas da população, e promovam debates públicos sobre como o capitalismo evolui através de crises cíclicas parcialmente superadas, mas cuja superação não indica que será capaz de solucionar adequadamente o problema angular da distribuição igualitária da riqueza produzida pelo conjunto da sociedade. Segundo os pensadores socialistas libertários, em sua evolução o capitalismo atingirá o pico da montanha para começar sua fase de declínio, quando então cederá seu lugar para o socialismo democrático. Apoiada por um pequeno círculo de intelectuais visionários, atualmente essa visão do futuro está turvada pela indiferença da nossa sociedade, refratária às ideias revolucionárias que propõem mudanças substanciais em seu quotidiano. Seduzida pelos encantos das promessas da sociedade de consumo, a maioria da população ainda acredita que, apesar de suas crises cada vez mais contundentes, o capitalismo será capaz de superar suas contradições internas e saldará suas promessas de bem-estar para todos. Diante destas barreiras, a alternativa socialista consegue empolgar apenas algumas parcelas mais independentes da sociedade e associa-se aos partidos de esquerda ainda atuantes nos círculos políticos, mas essas experiências frutuosas são apenas luzes passageiras na escuridão proporcionada pela despolitização da sociedade. Entretanto, os defensores do socialismo democrático afirmam que, apesar do marasmo político das massas, a dinâmica interna do capitalismo é o motor de suas constantes transformações, e poderá transformar o que atualmente é uma Utopia em uma sociedade histórica, que não mais identifica-se com o modelo capitalista.

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