Neurose é um comportamento compulsivo que o indivíduo adota para proteger-se dos seus conflitos emocionais gerados em seu relacionamento com a sociedade. O enredo dessa compulsão pode iniciar-se em sua tenra infância ou durante sua adolescência, e os motivos do seu surgimento são inumeráveis, mas decorrem de uma situação traumática insuportável de vivenciar. Há neurose que surge na idade adulta, mas este tipo é considerado uma neurose de situação, que desaparece quando o traumatismo ocasional é superado. Mas a neurose de caráter, que geralmente surge na infância ou na adolescência incorpora-se à personalidade do indivíduo porque constitui uma poderosa promessa de solução dos seus problemas emocionais. E a partir desta sua identificação com o seu caráter neurótico, o indivíduo adota um comportamento compulsivo que promete a solução dos problemas vitais da sua existência. Mas o que inicialmente pareceu uma solução, corrói as energias vitais do indivíduo, passa a dirigir sua vida e exige um compromisso irrevogável com suas soluções. Entretanto, como a realidade é mais complexa que as soluções compulsivas da neurose, esse polvo instalado no interior do indivíduo produz um conflito neurótico resultante da resistência de suas energias sadias às investidas da neurose que invadiu sua personalidade. É através desse mecanismo que a neurose não só exacerba os conflitos interiores do indivíduo, mas estimula seus conflitos com a sociedade, resistente às soluções mágicas propostas pelo comportamento neurótico. Sendo um elemento estranho à personalidade do indivíduo, a neurose instala-se em seu inconsciente como um inquilino agressivo, onde silenciosamente exerce sua função de solucionar magicamente os conflitos interiores e exteriores. Ao fomentar as fantasias individuais, a neurose estimula o isolamento do indivíduo da realidade onde vive, pois seu conteúdo é idealizado, compulsivo e autoritário, e propõe soluções mágicas para a complexidade do real. As soluções neuróticas geralmente propõem duas ou três orientações fixas, que determinarão a formação da personalidade doentia. Diante do conflito com a realidade, o neurótico compulsivamente pode fugir do problema, enfrentá-lo ou acomodar-se a suas exigências. Fugir, lutar ou aceitar uma situação são comportamentos compatíveis com as personalidades sadias, pois dependendo de cada circunstância pode escolher livremente qual dos três comportamentos adotará. Mas nas personalidades neuróticas, a solução adotada é sempre compulsória e exclui a possibilidade de adotar simultaneamente as outras duas, de acordo com as necessidades. E dependendo da solução neurótica que o indivíduo adotar, poderá tornar-se compulsivamente rebelde, submisso ou indiferente diante de qualquer circunstância, e independente de qual das três soluções adotar, reagirá com inflexibilidade compulsiva. Limitado por uma dessas soluções, o neurótico fragiliza-se e apega-se cada vez mais à solução que adotou, tornando problemáticas suas relações consigo mesmo e com a sociedade onde vive. Internamente, suas forças vitais, embora sufocadas pela tirania da neurose, reagem a essa presença autoritária, desencadeando dilacerantes conflitos íntimos. Como a sociedade não aceita soluções compulsivas, essa resistência amplia o conflito do neurótico com o exterior. Diante de seus conflitos interiores acrescidos dos seus conflitos com a sociedade, o neurótico isola-se da vida e instala-se em uma redoma protetora, na tentativa de solução dos seus problemas, e apega-se ainda mais às soluções neuróticas. Para superar esses conflitos, geralmente o indivíduo procura viver nos limites de suas forças interiores fragilizadas por tantos conflitos existenciais. Casar-se com uma mulher cujas neuroses possibilitem-lhe um convívio sem maiores traumas, limitar suas ambições na vida adotando um emprego que não exija mais do que os limites de sua neurose permitam, ou tornar-se um agressivo defensor de uma causa popular são soluções neuróticas que, dependendo das circunstâncias, poderão proporcionar-lhe uma relativa felicidade na vida. Entretanto, se desejar superar seus conflitos emocionais decorrentes do poder que a neurose exerce em sua personalidade, a solução racional será iniciar um doloroso, mas decisivo processo de autoanálise. E orientado por um psicanalista competente, poderá desmanchar toda essa trama neurótica, e alcançar a libertação de suas forças vitais sufocadas pela neurose que inicialmente pareceu-lhe solucionar compulsivamente seus conflitos interiores. Ou, se desejar uma solução mais radical e libertária, poderá acrescentar à decisão de autoanalisar-se uma cultura crítica do conjunto da sociedade onde vive, que é a fonte primordial das neuroses individuais.
