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A ideologia da extrema direita é ultraconservadora. Sustenta-se em princípios autoritários fixados no passado, produtos de culturas primitivas, refratárias à modernidade. Suas fontes são o folclore, os racismos, os mitos, as lendas, os misticismos, recriados para que se adaptem aos tempos modernos, e são incorporados pelos segmentos sociais conservadores, apavorados com os avanços do pluralismo da cultura moderna. A extrema direita utiliza esses transplantes culturais supondo que é possível construir a modernidade com as ideologias que serviram de sustentação ideológica de sociedades pretéritas. Neste sentido, não é contrária ao progresso científico, tecnológico e material da sociedade moderna, porém acredita que é possível criar uma sociedade materialmente desenvolvida, mas permeada por ideologias sustentadas nos misticismos prevalecentes em sociedades anteriores à modernidade. E o resultado desta tentativa infrutífera de mesclar culturas passadas com as atuais é um sistema de ideias composto de retalhos culturais que não resolvem o quebra-cabeça, mas teoricamente aparentam coerência porque os gatos são mantidos presos dentro do saco com sua abertura vedada. O nazismo é a mais ousada representante da ideologia de extrema direita produzida na sociedade moderna. Seu mentor, Adolf Hitler, foi buscar seus ingredientes ideológicos nas teorias racistas de Arthur Gobineau, no folclore alemão, no antissemitismo, na música de Wagner e na interpretação canhestra da filosofia de Nietzsche. Elegeu o povo alemão como descendente de uma raça superior destinada a governar o mundo, classificou os judeus como raça impura e inferior, que deveria ser exterminada porque a considerou responsável pela decadência da Alemanha. Sustentado por essas ideias, sintetizadas no seu livro Minha Luta, encontrou acolhida nas classes médias e em parcelas do empresariado alemão, desesperados com a queda constante de seu padrão de vida, devido à derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. Acrescentou a esses ingredientes ideológicos um ódio contagiante ao comunismo, e aglutinou seguidores fanáticos de suas ideias, com os quais desenvolveu uma agressiva campanha político-eleitoral, até chegar ao poder através de eleições. Sentindo-se fortalecido, Hitler culpou a fragilidade do sistema democrático alemão como a responsável pelas dificuldades da Alemanha, e com essa retórica tornou-se seu chanceler, e através desse cargo deu um golpe de Estado, que gerou um sistema de partido único, ditatorial e construtor do sistema nazista. Livre da oposição, o nazismo perseguiu seus adversários, massacrou os judeus residentes na Alemanha, elegeu os países democráticos e os comunistas como os responsáveis pela decadência alemã, desenvolveu o militarismo interno com o qual iniciou a expansão militar do país no continente europeu, justificando-a como uma justa conquista de territórios onde havia minorias arianas, que deveriam ser incorporadas à pátria de origem. Seus êxitos militares iniciais atraíram o apoio de segmentos sociais de tendências autoritárias e conservadoras de outros países, que se apressaram em formar movimentos ideológicos afinados com a ideologia nazista, e com estas adesões tudo parecia indicar que os sistemas autoritários seriam o futuro da sociedade moderna. Entretanto, após as indecisões iniciais das diplomacias dos principais países democráticos, estes convenceram-se de que a violência do nazismo poderia conduzir a sociedade contemporânea a um retrocesso inevitável, e a alternativa restante foi a formação de uma frente ampla democrática para conter a avalanche nazista. Vitoriosos no conflito contra o nazismo, conhecido como a Segunda Guerra mundial, os aliados reforçaram a vigência do sistema democrático na maioria dos países ocidentais como a garantia de que o retrocesso nazista estivesse eliminado da sociedade moderna. Entretanto, apesar dos progressos da sociedade contemporânea, estimulado principalmente pelo racionalismo científico, que requer o aprimoramento da democracia, a história mais uma vez parece progredir oscilante como uma gangorra. Nos países onde há prolongados retrocessos econômicos, surgem ideólogos místicos que propõem receitas conservadoras e autoritárias para a prolongada crise, e encontram entre os segmentos conservadores da sociedade, com núcleos nas classes médias, agrupamentos dispostos a segui-los. E no Brasil não é diferente. Diante da prolongada crise que atinge o conjunto da sociedade, um místico de personalidade autoritária e conservadora projeta-se como o novo messias, salvador da pátria através de receitas com ingredientes refratários ao racionalismo contemporâneo. Olavo de Carvalho, ao influenciar Jair Bolsonaro, indicou vários de seus seguidores para cargos ministeriais no governo, que engrossam a agenda conservadora do presidente. Mas, apesar do apoio de Bolsonaro, alguns desses nomeados pelo guru Olavo de Carvalho se adaptaram mal em suas funções, e, teatralmente, um destes protagonistas, o secretário da Cultura Roberto Alvin, se excedeu dos limites do tolerável pela sociedade, ao protagonizar nos meios de comunicação uma cena inusitada. Para fazer um pronunciamento público, montou um cenário com ingredientes nazistas, e protagonizou Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler. Mas a emenda saiu pior que o soneto, pois sua fantasia foi facilmente identificada, e causou protestos dos seguimentos democráticos da sociedade, que obrigaram o presidente a demiti-lo do cargo. Este episódio demonstrou que a extrema direita continua viva na sociedade brasileira, agora impulsionada pelo bolsonarismo, mas sua expansão encontra a resistência dos segmentos sociais identificados com a modernidade.

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