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O Bolsonarismo é um confuso movimento conservador alinhado às tradições da direita ideológica atuante na sociedade ocidental desde os meados do século 20. Incorpora o fascismo caboclo, sintetizado pelo Integralismo liderado por Plínio Salgado na década de 1930, soma-se aos remanescentes do nacionalismo verde-oliva e anti–getulista das parcelas conservadoras do Exército brasileiro, e acrescenta a essas vertentes ideológicas o liberalismo que limita drasticamente a intervenção do Estado na economia. Alicerçado nessas tradições ainda difusas na sociedade brasileira, eclodiu como um furacão na última eleição que elegeu Bolsonaro presidente do Brasil. Alimentou-se das sucessivas crises estruturais que dificultam a aceleração da economia brasileira, e afetam o conjunto da população. Arregimentou seus eleitores principalmente na classe média brasileira, descontente com as constantes quedas do seu padrão de vida, conseguiu adesão de parcelas consideráveis do empresariado insatisfeito com o populismo dos governos do PT, e conseguiu votos entre parcelas dos assalariados de baixa-renda que, fixadas nas lideranças messiânicas tão presentes ao longo da história nacional, visualizaram em Bolsonaro o moderno messias, capaz de conduzir o povo carente ao reino da felicidade. Eleito presidente através da convergência dessas heterogêneas motivações ideológicas, iniciou seu governo encantando seu eleitorado com sinais de eficiência ao nomear ministros Paulo Guedes para a economia e Sérgio Moro, o prestigiado moralizador da política brasileira, para a pasta da Justiça, mas discretamente nomeou como mentor do seu governo o místico Olavo de Carvalho, sem cargo, mas na função de consultor para assuntos ideológicos. Reforçou sua administração com militares da sua confiança, e montou sua sala de consultas com seus vociferantes filhos, aos quais rendeu culto ao proporcionar-lhes amplo espaço para opinar sobre os assuntos estratégicos do seu governo, e com esta opção lentamente se desfez do seu ideólogo Olavo de Carvalho, que demonstrou sua inutilidade em assuntos administrativos. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, por ser mais lúcido e moderado que o presidente, é mantido à distância dos centros de decisão, e este distanciamento decorre do personalismo autoritário e intransigente de Bolsonaro, que vocifera suas decisões precipitadas e inconsequentes, e deixam atônitos seus apoiadores mais lúcidos e surpreende a parcela mais politizada da população. As gafes cometidas por Bolsonaro nestes seus 10 meses de governo são inúmeras e variadas, tanto no plano nacional como no âmbito internacional. Estufado como um pavão, tentou mas fracassou ao se aproximar do indiferente Donald Trump, fez menções desastrosas e mal- educadas à esposa do presidente francês, conduziu-se mal em relação à política ambiental perante as nações desenvolvidas, fez referências indevidas em relação ao resultado das eleições na Argentina, e insiste em nomear seu filho Eduardo Bolsonaro como Embaixador nos Estados Unidos. Internamente demitiu ministros, trocou secretários, e agora instalou uma grave crise interna no PSL, o partido que o apoia no Congresso, ao acirrar as disputas internas pelo comando dessa agremiação. Em seus pronunciamentos, expressos na mídia, prevalece a preferência do presidente por aquele núcleo fanatizado de seguidores, e deixa em segundo plano o conjunto da sociedade brasileira. Diante dessa conduta de Bolsonaro, pautada pelo sabor do dia a dia, e que reflete a visão ideológica do presidente, os segmentos mais esclarecidos da população já não sabem qual o significado do bolsonarismo. Despreocupados com a busca de uma definição, os bolsonaristas mais obtusos e fanatizados continuam cegamente apoiadores incondicionais do presidente. Os segmentos mais indecisos de seus eleitores encontraram uma alternativa conciliadora, aderindo à campanha, já um tanto amortecida, e sintetizada no slogan Somos Todos Moro. Mas na visão dos segmentos politizados do país, o Bolsonarismo é um convulsivo fenômeno político passageiro, e não criará raízes na sociedade brasileira como o peronismo na Argentina, pois é um saco de turbulentos gatos ideológicos, cujo gato maior é o personalista presidente, para quem Bolsonaro é a síntese do Brasil.

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