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Homenageio o Dia Internacional da Mulher com atraso de uma semana porque só agora, ao ouvir pela centésima vez o álbum da cantora Maysa, que ganhei há mais de 20 anos da Elza, encontrei inspiração para escrever sobre essa data tão especial.

Maysa Monjardim nasceu em 6 de junho de 1936 na cidade de São Paulo, e faleceu em 22 de fevereiro de 1977 no Rio de Janeiro. De família de classe média, recebeu uma educação esmerada, e desde criança demonstrou pendor para as artes, com destaque para a música. Casou-se muito jovem com um descendente da família Matarazzo, mas foi infeliz no casamento, até que em um sarau familiar foi descoberta pelo produtor Roberto Corte Real, quando cantava para os convidados. Hipnotizado pela sua interpretação, Corte Real convidou-a para gravar na RGE. Talentosa e culta, cantava em vários idiomas com perfeição, credenciando-se assim para as excursões que realizou ao longo de sua carreira como cantora. Quando decidiu pela vida artística, Maysa encontrou a esperada resistência da família do esposo, mas, ao não aceitar essa exigência familiar o rompimento matrimonial foi inevitável. Apesar do seu talento, e do grande sucesso que alcançou desde o início de sua carreira, a vida artística de Maysa foi difícil, pois a carreira de cantora tem muitas concorrentes aclamadas pelo seu público fiel e disposto a denegrir o talento de uma nova estrela. Durante grande parte de sua vida artística, foi rotulada de “cantora de fossa”, uma definição maldosa para as intérpretes de canções que destacavam as dores dos desencontros amorosos. Mas o talento e a determinação de Maysa venceram todos estes obstáculos, e tornou-se uma cantora consagrada não só entre sua Corte de fãs brasileiros, mas atravessou nossas fronteiras, pois nos países onde excursionou deixou seu nome gravado na lembrança e no coração de quem a ouviu cantar. Maysa foi uma cantora-personagem com Edith Piaff e Judy Garland, e ao interpretar, sua voz era trabalhada e contida para expressar com clareza os sentimentos contidos em cada canção. Poucas vezes ela abriu a garganta em suas interpretações, mas seu intimismo com o conteúdo do que cantava era suficiente para hipnotizar o público, e capaz de levá-lo à catarse coletiva. Raras vezes, como aconteceu em 1972 na boate “Number One” ela abriu plenamente sua garganta em canções como Eclipse de Luna e Adeus América, surpreendendo não só o público, mas também a crítica especializada, que anunciou “Uma Nova Maysa”. Entretanto, essa explosão foi o seu lado luminoso que se manifestou, demonstrando a riqueza da personalidade dessa cantora aclamada, mas pouco compreendida. Além de cantar, Maysa compunha, mas era relutante em tornar pública sua produção. E para auxiliar a compor os mosaicos de sua personalidade, repentinamente surgiu uma Maysa atriz, quando convidada para atuar em uma produção de Marilda Pedroso. Tinha também estro poético, e compôs mais de duzentos textos e poemas, jamais publicados. Leitora voraz, Maysa tinha uma cultura ampla, que auxiliou-a em seu roteiro de cantora eclética. Além dos sambas canções iniciais, introduziu em seu repertório canções de compositores internacionais famosos, e no início da década 60, incluiu músicas de bossa-nova, com preferência para Tom Jobim. E para conhecê-la em sua intimidade precisamos recorrer a suas frases célebres, publicadas na imprensa: “-Deixei de compor. Não faço mais concessões nem a mim.” “-De 58 a 63 minha vida foi um pileque só. Não sabia tomar um pileque de cada vez.” “-Tenho uma profunda necessidade de dizer que amo as pessoas, mas só tenho coragem de fazer isso com a ajuda da bebida.” “-Perco meus amigos porque fujo deles com medo de perdê-los.” “-Quando emagreci não perdi quilos, perdi litros.” “-O homem ideal? De preferência calado.” “-Precisava botar para fora toda angústia que sentia naquela gaiola de ouro em que estava metida.” “-Vou ser avó exatamente quando desejo ser mãe.” “-Adoraria ser Milena, a amiga de Kafka.” “-Hoje em dia a gente não tem muito porque ser alegre. A felicidade a toda hora é privilégio dos burros.” “-Conselho é coisa perigosa. Nunca dei, nunca pedi, nem aceitei.” “-Aprendi a ver as horas: quero ver os amanheceres, sem pressa, sem susto, sem nada.”

Por que escolhi Maysa como paradigma do Dia das Mulheres? Porque apenas as mulheres ousadas sabem o que é liberdade, e alcançam o respeito dos homens.

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