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Nos meados do século 19, o cientista inglês Charles Darwin (1809-1882) foi o pioneiro do que posteriormente cunhou-se de evolucionismo das espécies. Suas revelações, concluídas após muitos anos de pesquisas sistemáticas, causou comoção entre os segmentos culturais daquela época, pois até então prevalecia uma interpretação criacionista das espécies. Darwin recebeu críticas rancorosas dos segmentos culturais dominantes vinculados ao criacionismo, mas foi aceito com entusiasmo pelos segmentos mais liberais, identificados com os avanços das ciências naquele período. A aceitação do criacionismo continuou predominante no conjunto da sociedade, mas entre os cientistas e os pensadores liberais, o evolucionismo criou raízes profundas, e direcionou o conjunto das ciências nos caminhos evolucionistas. Ciências como a Geologia, a Antropologia, a Oceanografia e a Astronomia incorporaram uma visão alicerçada na teoria evolucionista, e os resultados dessa adesão são promissores, pois revelam aspectos da vida e do mundo até recentemente desconhecidos pela humanidade. A teoria criacionista adotada pelas civilizações ocidentais limitava a origem da vida a alguns milênios apenas, e surgida em um período curto, contado em dias. Antes do evolucionismo, prevalecia uma explicação mítica das origens da vida, contada pelos povos que predominaram no período antigo da história humana, como podemos constatar nos mitos elaborados pelos hebreus, egípcios, mesopotâmicos e gregos. Esses mitos tornaram-se poderosos ingredientes culturais adotados por esses povos, e alguns foram incorporados pelas sociedades surgidas posteriormente, e prevaleceram em nossa civilização até os meados do século 19. Foi neste período recente da nossa história que o evolucionismo científico se consolidou como uma alternativa racional às visões míticas da origem da vida, e alvoroçou a tranquila formação cultural conservadora da nossa sociedade, até então acomodada com as explicações míticas de nossas origens. Analisadas à distância, as investigações e as conclusões científicas de Darwin atualmente são consideradas como uma teoria inicial do que é conhecido como evolucionismo, pois as descobertas surgidas após suas pesquisas iniciais são desdobramentos espetaculares de uma nova visão do mundo, respaldada pela cultura científica. Das ciências que aderiram ao evolucionismo científico, a Antropologia e a Pré-História são os campos do conhecimento que mais se beneficiaram dessa visão de mundo. Através destas duas ciências, atualmente sabemos que a vida surgiu no planeta a milhões de anos, e as espécies hoje existentes são resultado de lentas e dolorosas mutações ocorridas nas diversas fases dessa longa existência. Essas mutações das espécies decorreram das necessidades de suas constantes adaptações às mudanças do meio ambiente, que passou por inúmeras variações geológicas e climáticas, fatais para as espécies inadaptáveis, e benéficas àquelas em condições de adequação. Na esteira dessas mudanças, a raça humana também evoluiu lentamente, desde suas estruturas mais primitivas até chegar à vida civilizada. A Antropologia pesquisa sobre essa longa caminhada, através dos sistemáticos e pacienciosos estudos dos fósseis humanos obtidos no mais diversos e longínquos espaços do planeta. Através das datações obtidas pela aplicação do carbono radiativo, os antropólogos e historiadores classificam com o rigor requerido esses fósseis, e caminham rumo ao estabelecimento de uma sequência evolutiva da vida humana que demonstre cientificamente como nossos antepassados contribuíram para que nós chegássemos até aqui. Esse longo período da história humana é conhecido como a Pré-História, e aproximadamente constitui, segundo os antropólogos e historiadores, mais de noventa por cento da história humana. É uma saga digna de ser conhecida e admirada por todos nós, que nos consideramos civilizados. Mas para conhecê-la e considerá-la uma epopeia, é preciso que em cada um de nós prevaleça a condição de civilizado, ou seja, que conscientemente aceitemos o lado racional da nossa civilização, permeado pelas ciências, e refratário às interpretações míticas de nossa origem. Charles Darwin proporcionou-nos o exemplo de racionalidade necessário à condição de civilizado.

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