PUBLICIDADE

O conceito de humanidade, enraizado em nossa sociedade, decorre da consciência coletiva de que, apesar de originários de etnias e de culturas variadas, somos todos racionais e portadores de valores humanos idênticos. Mas essa consciência é um patrimônio cultural recente, incorporado pela nossa civilização, pois desde os povos tribais até as sociedades anteriores à nossa, o conceito de humanidade não predominava no conjunto dessas coletividades. Destacava-se nessas sociedades uma visão etnocêntrica de cada coletividade, que conduzia cada povo a considerar-se como qualitativamente superior aos demais povos com os quais se relacionavam. No território brasileiro anterior à colonização portuguesa, as sociedades aqui existentes eram de formação tribal, e os componentes das tribos vizinhas eram tratados como estranhos, inferiores e até inimigos, quando havia disputas pelo mesmo espaço territorial. Cada tribo narrava a origem da vida no planeta com exclusivismo etnocêntrico, identificando-a com suas próprias origens. Mas essa lendária narrativa etnocêntrica da própria origem era típica de toda sociedade tribal existente em todos os continentes, e permaneceu predominante mesmo no período histórico quando as tribos se civilizaram, e tornaram-se povos culturalmente mais desenvolvidos. A civilização chinesa antiga considerava-se o centro do mundo, e os demais povos como periféricos e de cultura inferior à sua. Os hebreus consideravam-se descendentes de Adão e Eva, legendário casal mítico que, para esse povo, iniciou a história da humanidade. Os povos gregos e romanos diziam-se habitantes do mar localizado no meio do planeta, denominado mar Mediterrâneo, e consideravam bárbaros os povos vizinhos. Os persas acreditavam ter a missão histórica de dominar e civilizar os demais povos, e esta ficção etnocêntrica justificou a formação do seu império multicultural, formado através da conquista dos povos vizinhos. As várias etnias gregas, que habitavam os territórios localizados no mar Egeu, expandiram-se tendo como motivação ideológica a expansão de sua cultura, considerada superior em relação aos povos bárbaros que conseguiram conquistar. Os romanos, habitantes da península itálica, conquistaram os povos antes integrados ao império persa ou associados aos povos gregos, em nome de sua cultura superior. No longo período medieval europeu, a sociedade permeada pelo ascetismo religioso da Igreja católica considerava-se o centro da Cristandade, um título de superioridade em relação aos demais povos não cristianizados. Foi a partir do Renascimento cultural, surgido na Europa ocidental entre os séculos 13 e 16, que o conceito humanista começou a se reproduzir. Herdado de uma parcela mais universalista da cultura do período helenístico das sociedades grega e romana, o conceito de humanidade incorporou-se lentamente na sociedade ocidental moderna conduzido pela expansão comercial de alguns países europeus, que incorporou novos continentes à cultura ocidental, e revelou à Europa uma diversidade de povos e culturas desconhecidas. Ao incorporar essas novas áreas e povos ao sistema de comércio, os europeus implantaram sua cultura considerada superior aos povos conquistados. O capitalismo comercial evoluiu para o Capitalismo industrial, gerador de uma sociedade global, altamente científica e tecnológica, que rompeu as fronteiras culturais entre os povos e dissemina, através dos modernos sistemas de comunicação, a cultura moderna do ocidente entre todos os povos. Estas transformações econômicas, políticas e culturais contribuíram para a divulgação e a assimilação pela coletividade mundial do conceito de humanidade, que no futuro próximo unirá os povos e as nações através do humanismo contemporâneo, herdeiro dos humanismos anteriores, que permaneceram latentes nos subterrâneos das culturas autoritárias dominantes nos povos do passado.

PUBLICIDADE