Há um descompasso entre a vida real e sua compreensão. Vivemos uma realidade, mas a interpretamos segundo padrões superados, próprios de realidades históricas anteriores. Nos últimos duzentos anos, a sociedade contemporânea evoluiu aceleradamente, principalmente se comparamos sua evolução acelerada com o andamento lento das sociedades anteriores. Até o início do século 19, as sociedades eram basicamente rurais, com núcleos urbanos que floresciam lentamente, mas influenciados pela visão rural do mundo predominante. Na antiguidade, na Grécia e em Roma floresceram promissoras culturas urbanas, mas não resistiram à envolvente cultura rural predominante naquele período histórico, cedendo espaço para o longo período medieval, uma sociedade permeada pelo ascetismo religioso, que contribuiu para a sobrevivência de alguns núcleos urbanos em seu interior. A Renascença ocorrida nos inícios do período moderno representou o rompimento parcial de uma embrionária sociedade de cultura urbana com aquele passado culturalmente rural. Mas a partir do século 19, marcada pelo desenvolvimento científico, a sociedade industrial e urbana floresceu no ocidente, impulsionada pela Revolução Industrial, e liderada pela Inglaterra. Deste país, o sistema industrial expandiu-se por quase toda Europa e no norte do continente americano. Foi esse impulso colossal que gerou a atual sociedade capitalista e de cultura urbano-tecnológica. Mergulhado nesse desenvolvimento acelerado, o homem contemporâneo demonstrou incapacidade para acompanhar esta evolução, interpretando-a de acordo com a cultura tradicional alicerçada nas concepções ruralistas e pré-científicas próprias das sociedades rurais. Sem uma visão planetária e ecológica produzida pela cultura científica da sociedade contemporânea, a humanidade é incapaz de perceber que o sistema econômico capitalista é predador do meio-ambiente, e avançou demasiadamente em sua capacidade de destruição do planeta Terra. Atentos a esta realidade alarmante, os cientistas dedicados às pesquisas ambientais denunciam as incontáveis ações das grandes empresas poluidoras do meio-ambiente, mas até recentemente seus alertas encontraram pouca acolhida no conjunto da sociedade, hipnotizada pelos transitórios benefícios do critério destrutivo do desenvolvimento unilateral, baseado em um conceito consumista, que privilegia o consumo indiscriminado como motivador de uma enganosa felicidade. Os indicadores da devastação do planeta, e o consequente desiquilíbrio ambiental, são evidentes e manifestam-se tanto pelas alterações climáticas como através de suas graves consequências. Temperaturas cada vez mais altas, a destruição da calota polar, a agressividade crescente dos vendavais e furações, a extinção acelerada de muitas espécies de diminutos animais, o ressurgimento de doenças consideradas extintas, o desmatamento indiscriminado, a poluição ambiental constituem um conjunto de resultados decorrentes das agressões humanas contra o planeta. Estas evitáveis catástrofes resultam basicamente da arrogante e cínica filosofia dos grandes conglomerados de empresas poluidoras que, diante das denúncias evidentes dos cientistas, colocam-nos diante de um falso dilema assim anunciado: -se descelerarmos a produção industrial que fere o meio ambiente, não haverá desenvolvimento, e sem este predicado a população voltará a estágios anteriores de vida e bem-estar. Mas este é um falso argumento porque há inúmeras evidências de que muitas descobertas tecnológicas alternativas, se aplicadas no atual sistema produtivo contribuirão significativamente para equilibrar um desenvolvimento mais humano sem destruir o planeta. Mas a resistência em aplicar em seus sistemas de desenvolvimento essa nova tecnologia decorre da mesquinhez e do imediatismo do sistema capitalista, aferrado em sua antropofágica ganância de lucros imediatos. E também porque esse sistema não deseja uma inversão de rumos do atual sistema de desenvolvimento, uma inversão relativamente realizável se a produção visar o bem-estar do conjunto da sociedade e não aos critérios lucrativos do capitalista.
Embora poderosa, essa resistência do capital às mudanças de rumos da sociedade contemporânea já agregou opositores reconhecidamente autorizados, cujas vozes já não estão mais dispersas e isoladas do conjunto da sociedade, e apresentam as viabilidades de se adotar um novo modelo de desenvolvimento centrado no bem-estar da humanidade, e compatível com a recuperação do meio-ambiente, como forma de reequilibrar as cadeias ambientais que harmonizam a vida planetária. Mas para a realização deste projeto, é necessário que cada um de nós tome consciência da gravidade do problema ambiental e encontre um caminho para participar desta jornada redentora. E se você não sabe como integrar-se a essa corrente, comece sua militância plantando uma árvore na calçada de sua residência, ou se acredita nos efeitos positivos da reza, então reze, mas enquanto reza faça algo para freiar a destruição do planeta.