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A extrema direita brasileira é um balaio de gatos formado por ideologias conservadoras refratárias ao avanço da modernidade. Surgida na Europa ocidental como consequência de movimentos sociais e culturais como o Renascimento e o Iluminismo, o modernismo encontrou no desenvolvimento gradativo do capitalismo um aliado poderoso para consolidar-se na sociedade contemporânea. Mas esta consolidação ocorre enfrentando a resistência dos remanescentes sociais e culturais do passado, que defendem um impossível progresso alicerçado no capitalismo, mas expurgado de suas manifestações culturais libertárias e promotoras das livres expressões individualizadas, sejam elas das minorias ou das maiorias. Ao contrário desse casamento da modernidade com a democracia ampla e plural, a extrema direita deseja a dissolução desse matrimônio libertário, e propõe o enlace da modernidade com o passado cultural, quando predominava uma cultura patriarcal, autoritária, machista, racial e segregacionista, que favorecia as elites dominantes e colocava a maioria da sociedade na condição de pacatos e obedientes cidadãos, seguidores das cartilhas de receita única elitista.
A extrema direita conservadora está presente e se manifesta no conjunto da sociedade moderna, diluída no inconsciente dos indivíduos. Explode com ímpeto irascível nos períodos de conflitos ou de transições sociais, quando então aparenta assumir os rumos da sociedade. No século passado, ideologias de extrema direita, movidas por políticas autoritárias e corporativistas, centradas no poder de chefes carismáticos, como Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália, não apenas assumiram o poder nesses países como também estimularam o surgimento de movimentos imitadores do Nazismo e do Fascismo em outros países da sociedade ocidental., incluindo o Brasil, onde o movimento Integralista, liderado por Plínio Salgado, empolgou parcelas das classes médias urbanas. Fixados na ideia de dominar o mundo, Hitler e Mussolini se aliaram militarmente e promoveram a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), um sangrento conflito vencido pelos países opositores, liderados pelos Estados Unidos e União Soviética. Após essa derrota, a direita conservadora perdeu seu ímpeto agregador, foi incapaz se se reorganizar mundialmente, mas apesar desse recuo, ainda tem forças sociais diluídas na sociedade contemporânea, e em pequenos grupos manifesta-se politicamente em movimentos de rua ou mesmo consegue infiltrar seus representantes em partidos políticos de orientação conservadora. Na Europa e na América encontram seguidores principalmente nas classes médias despolitizadas e preocupadas com as consequências das conquistas dos direitos alcançados pelas minorias até recentemente marginalizadas da sociedade, como os negros e os homossexuais, que podem ampliar-se para outros caminhos como a luta pelo fim da violência contra as mulheres e as crianças, a integração social das minorias étnicas na sociedade, a eliminação da miséria e do analfabetismo, a abolição do trabalho escravo e infantil, ou o incentivo a uma política planetária, que defenda o planeta Terra da agressão humana.
Como os valores do passado, defendidos pelos conservadores, estão em franca decadência e não servem mais como justificativas ideológicas, seus seguidores , como os náufragos, apegam-se a fantasmas para a defesa de seus princípios reacionários. E como a imaginação humana é fértil para criar fantasias, de qualquer retalho ideológico tecem uma fantástica concepção de mundo, e quando vivida com convicção por um grupo de indivíduos, facilmente consegue adeptos ou seguidores, que se multiplicam até formar um movimento aparentemente sólido, que atrai pelos seus rituais, pelos seus segredos homeopaticamente contados aos seus seguidores, na proporção que sobem na hierarquia secreta da organização; e munida desse aparato poderá evoluir para um movimento político, se encontrar uma liderança carismática, competente para traduzir em programas de governo os dogmas do movimento. Mas, na atual fase da modernidade, as manifestações da extrema direita surgem mais como epidemias passageiras do que uma pandemia de difícil cura, como ocorria até os meados do século passado, pois a sociedade ocidental nos últimos 50 anos avançou espetacularmente no campo libertário da cultura, das ciências em geral, das artes, da educação pública, dos meios de comunicação, avanços que são antídotos contra a contaminação da população pelo vírus ideológico da extrema direita. Mas como surtos ideológicos conservadores como o trumpismo nos Estados Unidos, e o bolsonarismo olavista no Brasil sempre ressurgem no cenário político das nações, deduz-se que os avanços da modernidade acontecem simultaneamente em dois tempos, embalados pela liberdade aglutinante, mas refreados pelo peso do passado ainda insepulto. Embalados nessa gangorra da História, precisamos decidir entre desejar a liberdade conquistada ou permanecer na servidão voluntária.

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