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Ler é um prazer imenso, que nos liberta da ignorância e abre espaços para infinitos conhecimentos. Ler é o mais celebrado instrumento que a humanidade inventou para construir sua condição humana. Sem a leitura jamais seríamos civilizados, e estaríamos definitivamente atolados na barbárie primitiva. Benditos sejam nossos professores que nos ensinaram a ler, pois sem a leitura o conhecimento da vida seria precário. Bem-aventurados são os seus alunos que com eles aprenderam a ler e apaixonaram-se pela leitura sem jamais abandonar esse prazer encantador. A leitura é a principal fonte da nossa integridade e do nosso patrimônio cultural, o único bem da nossa vida que nenhum Tribunal de Justiça pode alienar. Um sábio, que atingiu o cume da sabedoria jamais reclama de sua pobreza material, pois tem consciência da futilidade deste efêmero patrimônio. No final de sua vida, o avarento materialmente rico descobre que nada do que acumulou lhe pertence, enquanto o sábio reconhece que sua cultura construída ao longo da vida é uma herança que deixa não somente aos parentes, mas a toda humanidade. A construção do patrimônio cultural começa na tenra infância, quando a criança se encantou pela vida, após receber os primeiros ensinamentos da arte de viver com seus pais, e adensou-se ao decifrar o significado das primeiras letras na escola. Ou seja, para ser sábio é preciso ler. Acostumados com esse encanto da criança pela leitura, os professores alfabetizadores sabem das potencialidades dos seus alunos, e constituem os principais incentivadores dos talentos precoces que no futuro pertencerão ao seleto grupo de sábios. Mas em muitos alunos, lentamente esse caminho promissor se desfaz, em decorrência de muitos obstáculos colocados na vida da criança, que contribuem para anestesiar seu inicial encanto pela leitura. Entre estes obstáculos destaca-se a estrutura arcaica e oportunista dos sistemas oficiais de ensino dominantes no planeta, que privilegiam uma prática pedagógica distante da vida, pois estão mais preocupados em adestrar autômatos para o trabalho alienado dominante no sistema industrial moderno. E se descuidam da formação de individualidades com liberdade interior capacitadas para construir sua própria identidade. Ao priorizar a formação de autômatos dotados de aparente liberdade interior, a escola oficial desfaz lentamente a vivacidade criativa alojada na criança, através da transformação dos conteúdos humanos das disciplinas que compõem o seu currículo em códigos abstratos onde as regras e os símbolos prevalecem sobre a trabalhosa construção do saber criativo. Na área de Linguagem prevalece a ênfase das regras gramaticais sobre o saber literário. Em Matemática predomina a abstração dos números e dos cálculos ensinados sem o recurso de sua inserção nos espaços geográficos reais ou nos problemas vividos pelos alunos em seu quotidiano. Em História, as civilizações se sucedem em um tempo linear, destituídas de suas contradições internas geradoras de uma dialética repleta de imprevisibilidades futuras. E diante das intermináveis abstrações inaladas das conexões das disciplinas, o aluno perde sua vivacidade e se afasta da crueza da escola, buscando o saber em áreas menos recomendáveis. E assim, lentamente a sociedade asfixia o sábio em potencial que habita na criança, e completa esse assassinato já na adolescência de muitos jovens.
Mas a vida é sabiamente teimosa, e resiste a essa política de terra arrasada iniciada na escola, ao preservar seletos jovens da vala comum, onde jazem muitos talentos. E estes jovens salvados do destino comum, teimam em ler, e permanecem apaixonados pelos encantadores segredos que os livros não querem esconder. Nos livros, esses jovens aprendem que o patrimônio material possibilita prazeres e confortos para quem o possui, mas sabem também que é acumulado através da exploração do trabalho da maioria, que trabalha para um só ou uma minoria de proprietários. E, diferenciando da forma como o patrimônio material é acumulado, a construção do patrimônio cultural é alcançado através do trabalho individual, sem explorar o próximo, possibilitando imenso prazer para quem o cultiva. O acúmulo de capital material gerou, ao longo da vida civilizada, inúmeros impérios expansivos e militaristas, promotores de prolongadas guerras, que sacrificaram milhões de vidas inocentes, viventes desamparados e vítimas da exploração brutal promovida pelas minorias dominantes. Mas apesar dessas guerras fratricidas, que arruinaram prósperos impérios, as civilizações sucederam-se através de novas formas de exploração do trabalho da maioria pela minoria, menos brutais e acintosas às massas de trabalhadores. Entretanto, esta evolução ocorreu lentamente, através de sucessivas revoltas dos explorados contra as minorias exploradoras. E ao longo desses conflitos de classes, destacaram-se os sábios, que fornecem aos deserdados revoltados sistemas de ideias fraternos e humanistas que contribuíram para transformar as revoltas em revoluções das quais surgiram novas civilizações mais humanas.
As revoluções surgem das contingências históricas ditadas pelas contradições de uma sociedade, mas para que aconteçam é preciso uma teoria revolucionária para os deserdados da terra realizá-las. E este fermento revolucionário é produzido pelos sábios, que constroem seu patrimônio cultural visando a emancipação dos povos do jugo dos seus exploradores. Por essa razão, os historiadores afirmam que o patrimônio cultural, produzido pelos sábios, é sempre um patrimônio da humanidade. Mas este Saber é construído pelo Ler.

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