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As manifestações coletivas de rua do último domingo, estimuladas pelo presidente Jair Bolsonaro, têm um antecedente histórico similar, pois assemelham-se às manifestações de rua na Alemanha, inspiradas pelo chanceler alemão, Adolf Hitler, e que prepararam a implantação do nazismo naquele país. Eleito chanceler através do voto popular, Hitler responsabilizava a fragilidade do sistema parlamentar alemão pela grave crise da Alemanha. E para combater essa instituição democrática estimulava a participação da população alemã em manifestações coletivas de rua que criticavam o parlamento. Essa estratégia visava fortalecer o poder executivo e desmoralizar a democracia parlamentar perante a opinião pública, e constituiu um degrau importante para as intenções ocultas de Hitler para firmar-se como o único poder de decisão sobre a Alemanha. Embora essa comparação histórica não indique que Bolsonaro pretende seguir a mesma estratégia de Hitler, a semelhança entre essas manifestações ocorridas anteriormente na Alemanha e agora no Brasil alertam a vigilância dos segmentos democráticos brasileiros, atentos a qualquer tentativa de fragilizar nossas instituições democráticas. Reforça essa vigilância, o antecedente histórico ocorrido durante a Era de Vargas (1930 a 1945), quando o escritor Plínio Salgado, inspirado nos princípios do Nazismo alemão e do Fascismo italiano, organizou o movimento Integralista, e para preparar sua tomada do poder, promovia ruidosas manifestações de ruas, cuja tônica era a exaltação do centralizado sistema corporativista e a crítica à fragilidade do sistema representativo baseado na divisão dos três poderes – executivo, legislativo e judiciário- típica das democracias ocidentais. Embora destituído da criativa agilidade intelectual de Plínio Salgado, Jair Bolsonaro é receptivo ao misticismo retrógado do seu guru, Olavo de Carvalho. E ao nomear vários ministros, seguidores próximos de Olavo de Carvalho, Bolsonaro sentiu na prática administrativa a inadequação dos delírios místicos desse polêmico guru, representante da extrema direita ideológica. Com as manifestações de rua deste domingo, Jair Bolsonaro pretendeu pressionar o Legislativo e o Judiciário para que se abdiquem de sua independência e aceitem passivamente o projeto do Executivo. Ou seja, repetiu a mesma estratégia de Hitler para tutelar os demais poderes que formam o tripé da democracia representativa. Mas o tiro saiu pela culatra, pois o alerta geral para conter a propagação no Brasil da pandemia causada pelo Corona Virus, impossibilitou uma avaliação consensual sobre a participação mínima dos seguidores do bolsonarismo nos atos públicos convocados pelos bolsonaristas mais radicais. E ficou no ar se a baixa participação popular nessas manifestações decorreu da prudência da população, que evitou a aglomeração para impedir o avanço da pandemia, ou da lenta desagregação do bolsonarismo, motivada pela estratégia de Jair Bolsonaro ao jogar todas as suas fichas no poder das reformas como alavancas do retorno do desenvolvimento econômico, e não sobrou fichas para apostar em programas sociais que contribuam para aumentar o poder aquisitivo da população. E nessa aposta deu crédito ao programa neoliberal do seu ministro Paulo Guedes, que após um ano de execução patina no lodo dos baixos índices de desenvolvimento, pois trata-se de um projeto frágil demais e acredita que a efetivação das reformas seria suficiente para estimular a produção através da vontade de investir do empresariado. Mas cauteloso, esse empresariado vacila em investir em uma economia fragilizada por fatores complexos, e espera indícios mais sólidos que os proporcionados pelas reformas do governo. E diante desse impasse, quando o governo federal encontra resistência do legislativo aos seus projetos neoliberais, acusa essa instituição de bloquear propositadamente suas iniciativas. Refratário ao diálogo com o legislativo, Jair Bolsonaro apela para seu eleitorado mais sectário, que se identifica com seu centralismo, aderindo com facilidade aos apelos do presidente, que promoveu manifestações de rua para demonstrar seu pretenso poder sobre o conjunto da população. O apoio e o comparecimento de Jair Bolsonaro nas manifestações de Brasília, contrariando as diretrizes do Ministério da Saúde, demonstra que o presidente ainda não saiu do palanque eleitoral, e governa para parcelas mais radicais do seu eleitorado, arregimentado na classe média, e não para o conjunto da sociedade brasileira. Para onde caminhamos?

 

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