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Em 2018 a revista Metrópoles, realizou uma entrevista com uma trabalhadora de nome fictício “Laura”, a qual exercia a função de assessora parlamentar e trabalhava mais de 12 horas por dia, assumidamente Workholic, que no inglês significa “Viciada em Trabalho”, viu sua saúde entrar em colapso a ponto de cometer tentativas de autoextermínio, nome do jargão em saúde que significa tentativa de suicídio.
Após essa ocorrência, Laura trocou de trabalho e passou prestar consultorias, tarefa que demanda ritmo e organização diferenciada do antigo trabalho somada a significativa redução. Pontuou que a solução encontrada também “não deu certo” com o agravante de que a redução salarial impactou na falta dinheiro para tratar da saúde. Novamente Laura se viu “em parafuso” e oito meses após sua mudança laboral teve um novo surto e “m dia, quis dar um basta a tanto sofrimento físico e emocional. Nem acho que queria morrer, mas que a dor passasse. Estava esgotada e desisti”.
Laura, como outras trabalhadoras(es) estão na porcentagem apresentada pela pesquisa realizada, no anos de 2017 pelo próprio Ministério do Trabalho e Emprego de pessoas acometidas por transtornos relacionados ao trabalho, sendo que das pessoas que sofrem transtornos mentais no trabalho 40% são homens e 60% são mulheres.
A Organização Mundial da Saúde (2018) apontou que 90% dos casos de suicídio estão relacionados a distúrbios mentais, sendo a depressão a causa mais comum e, atualmente, reconhecida como o principal distúrbio associado ao trabalho, conforme pesquisa da pasta federal.
Essa situação assinalada na primeira década dos anos 2000 se encontra mais aguda hoje, neste sentido, a pesquisa realizada por Ricardo Antunes (sociólogo e grande pesquisador sobre o tema trabalho) denúncia às transformações radicais que vem ocorrendo no mundo trabalho, com a drástica diminuição da qualidade de vida da população, narrando um fenômeno que ele intitula de “uberização” do trabalho, uma vez que direitos conquistados pelos trabalhadores não apenas estão sendo diminuídos, mas extintos.
O Instituto de Pesquisa econômica aplicada informou que em 2018, a quantidade de pessoas que trabalham por conta própria com delivery saltou 104,2%. Especialistas inferem que esse aumento se deu pelo alto índice de desemprego no país e a dificuldade de encontrar vagas formais de trabalho.
Para o economista Marcio Pochman (2017) mergulhamos na mais grave crise política e econômica, a pior de sua história, na medida em que expandiu o desemprego a um dos mais altos patamares, 13%, no segundo trimestre de 2017 (IBGE, 2017).
Em face desse cenário aumentaram as síndromes de pessoas em exercício profissional, como a síndrome do pânico, a síndrome de burnoult (esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho), depressão, ansiedade, obesidade e no caso dos motociclistas os graves acidentes de trânsito que levam a perda da funcionalidade de membros e até mesmo a morte.
Segundo Bauman (2008) no início do século XX, “qualquer jovem que conseguisse seu primeiro emprego como jovem aprendiz na Ford poderia estar certo de terminar sua vida de trabalho no mesmo lugar”. Construíam-se horizontes de longo prazo, diferentemente dos vividos hoje, no qual a incerteza tem papel fundamental. Essa visão foi alterada para uma de curto prazo; exemplo dado é que um jovem norte americano mudará de emprego pelo menos onze vezes durante a vida “e essa expectativa de ‘mudança de emprego’ certamente continuará crescendo antes que a vida laboral da atual geração termine”.
A flexibilidade tornou-se slogan do dia, e aplicado ao mercado de trabalho significa fim de emprego ‘como conhecemos’, trabalhar com contratos de curto prazo, contratos precários ou sem contratos, cargos sem estabilidade e com cláusula de até novo aviso”.
Essa falta de controle sobre o presente, no tocante aos domínios da própria subsistência somada ao aumento do aumento da insegurança laboral relaciona-se as “novas” formas de contratação, bem como reflete a subjetividade assentada na exploração que não é percebida pelo trabalhador, o qual muitas vezes como Laura apenas fala sou Workholic, pois a insegurança em ser substituído nos retrata as condições gerais de trabalho, não apenas em nosso país, mas é uma situação geral que não reflete cidadania, pois a pesquisas apontadas neste artigo como tantas outras das mais diversas áreas do conhecimento revelam mutilações, doenças, desgastes e sofrimentos.
Fato é que a precarização do trabalho toma conta do país, de forma tão exacerbada que coloca o trabalhador a mercê das “oportunidades” informais de trabalho, trazendo risco a saúde, desvalorização profissional.
Até que ponto a sociedade precisará adoecer para manter em equilíbrio o capital?

Prof. Dra. Carla Alessandra Barreto – Socióloga, Mestre e Doutora em Educação pela UNESP. Diretora Acadêmica da Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara de Tatuí-SP

-Prof. Thiago Roberto Manttuane Alves de Almeida -Enfermeiro, Especialista em docência em enfermagem, mestrando em enfermagem pela EEUSP. Professor do curso de Enfermagem da Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara de Tatuí-SP

– Aline Tavares da Silva, Gabriele de Oliveira Nunes e Jade Loureiro Rodrigues dos Santos – Acadêmicas do curso de Enfermagem da Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara de Tatuí-SP

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