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Vou tentar escrever um pouco sobre a minha experiência como peregrina do Caminho Português de Santiago. Espero que ela possa vir a servir de inspiração ou estímulo para que outras pessoas iniciem a pratica da caminhada, ou do trekking. O Caminho de Santiago de Compostela é uma das rotas mais importantes de peregrinação cristã. Dentre as três principais, (Peregrinação à Jerusalém e ao Vaticano), é a única realizada a pé ou de bicicleta. Santiago Maior, foi discípulo de Cristo e os seus restos mortais estão na tumba da Catedral de Santiago, na Galícia espanhola. Tenho de dizer que fui nesta viagem, com quatro amigas mais novas do que eu. Alguns vinte anos a menos… e, que este detalhe, não fez diferença alguma durante os 350kms que caminhamos em 13 dias. Aqueles que me conhecem sabe que não sou do tipo esbelto ou sarado. Porém, para esta empreitada me preparei por um ano. Nos preparamos, todas as cinco. Começamos fazendo pequenas caminhadas pelas ruas da cidade e na pista da Biquinha, aqui em Cesário Lange. Aos poucos, fomos aumentando os trajetos, até chegarmos aos 18kms contínuos. No início, usávamos tênis e roupa de academia. Com o passar do tempo, acrescentamos a mochila, (cheia, claro!), as botas de caminhada com as palmilhas personalizadas, camisetas com filtro solar e as calças adequadas. Ganhamos resistência física e aprendemos a respeitar o ritmo de cada uma ao caminhar. Não é uma corrida. Não precisa ser acelerado o seu caminhar. O importante é o caminho em si e não o tempo que se leva para percorrer o trajeto. Sua rota pode ser curtida, nos detalhes e pode lhe dar prazer. Aproveite para treinar a sua capacidade de observação a cada percurso, novo ou não. Arrumar a mochila, decidir o que era realmente necessário, levou quase um mês. Pesquisamos na internet, com outros peregrinos, assistimos a palestras, lemos livros, assistimos a filmes. Por fim, cada uma fez sua lista de itens a serem levados e eu, levei uma mochila com 7kg. Tudo parecia indispensável para mim, até terminar os primeiros 27 kms, do primeiro dia de caminhada, em Portugal. Saímos da cidade do Porto. O dia estava muito quente, com sol escaldante, e os pequenos povoados pelos quais passamos, neste primeiro dia, tinham pouco sombreamento. Foram poucas as ruas arborizadas. As árvores, de um modo geral, ficam nos jardins públicos e nas praças. Ao final do primeiro dia, quando finalmente cheguei ao albergue, me desfiz, (deixei como doação para outros peregrinos), de 3kg de bagagem. Foi quando percebi que o importante para mim era completar o percurso, sem exigir demais do meu físico. Afinal, seriam muitos dias a mais de caminhada pesada, com sol, calor, sede, e muitas subidas. Cada vez mais íngremes… Decidi que iria desfrutar da paisagem, deste tempo com minhas amigas e comigo mesma. O trajeto reserva grandes desafios. Cada dia é uma etapa completamente diferente da anterior. Andamos por estradas vicinais sem acostamento, mas com sinalização de cuidado para com os peregrinos… Estradas romanas, dentro de bosques sombreados, ladeados por erva doce, muitas flores miúdas e inúmeros pássaros. Córregos com águas limpinhas e pontes medievais. Atravessamos muitos povoados abandonados, vazios, sem nenhum habitante. Saíamos juntas, pelas manhãs. Mas chegávamos em horários diferentes nos locais combinados. A palavra-chave é respeito. Chegar, marcar a cama, tomar banho, lavar a roupa, descansar. Come-se muito bem neste percurso. Muitos frutos do mar, bacalhau, batata e arroz. Sopas deliciosas, presunto de Parma, carne e pães. Alguns albergues eu recomendo; o Cats do Porto e o Albergue de Milladorio. Os demais, esqueça. Permita-se dormir bem, com banheiro no quarto, lençóis e colchões de tecido, ao invés de TNT e colchão de plástico. Você merece. Este conforto jamais irá desmerecer a sua peregrinação. Nós, desavisadas, dormimos nos albergues. Quartos com sessenta camas beliches, com banheiros sem intimidade alguma, janelas semiabertas… Algum dia eu pensei em desistir? Não. Passei mal pelo calor, quase desmaiei na estrada. Graças a Deus, não estava sozinha. Minhas amigas me acudiram. Minha pressão caiu. Estávamos a pouco menos de 5 kms da cidade de Oporrinho, num dia com temperatura superior a 38 graus! Quando entrei no táxi e ele tinha ar condicionado… chorei igual criança. Que delícia. Mas o albergue… nem gosto de lembrar. Talvez tenha sido um dos piores. Quantas cidades históricas, algumas amuralhadas. Conhecemos gente de todos os continentes e de todas as idades. Como boas brasileiras, cantamos muito, em várias paradas. De bossa nova a sertanejo. Alegramos os dias com o nosso bom humor. Choramos e rimos juntas. O último dia de caminho foi muito estranho. Não queríamos terminar, eu acho. Todas estivemos introspectivas, caladas, pensativas e muito emotivas. A entrada na Praça da Catedral de Santiago foi um misto de alegria, contentamento e felicidade. Não existem palavras capazes de descrever aquele momento. Conseguimos. Crescemos como pessoas, fortalecemos o espírito e expandimos a alma. Todas queremos voltar. #venhacaminhar #trekkingporcaminhosrurais. reginapaivaser

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