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Elaborada no final do século 17, a Física clássica de Isaac Newton proporcionou aos cientistas uma metodologia confiável para pesquisar sobre as forças que regem o funcionamento do Universo. Promissora e confiável, a Física clássica contribuiu para avanços surpreendentes e animadores nas áreas de Física e Química, mas nos meados do século 19, algumas pesquisas pioneiras indicavam que ela não fornecia respostas adequadas a alguns fenômenos recentemente descobertos, e as soluções desses novos enigmas requereram abordagens científicas heterodoxas, que resultaram, na transição entre os séculos 19 e 20, no surgimento da Física Quântica, proposta por Max Planck. A esta abordagem seguiu-se a Teoria da Relatividade, proposta por Albert Einstein, que revolucionou a compreensão do Universo. Juntas, essas abordagens abriram caminhos até então insuspeitos para os cientistas, que reverteram em uma revolução na mentalidade científica, responsável não só por novas respostas aos desafios dos segredos que constituem o conjunto do Universo, mas também por fornecer princípios científicos aplicados para melhorar a qualidade de vida da população. Todos estes desdobramentos das ciências nos últimos séculos conduziram à visão de que vivemos na Era científica, ou seja, de que a sociedade contemporânea está cada vez mais permeada pelo pensamento científico. Talvez estejamos vivendo um momento histórico de novos paradigmas para os rumos da humanidade, pois nenhuma civilização anterior à nossa teve uma evolução científica tão desenvolvida como a atual. Até recentemente, predominaram visões de mundo metafísicas, permeadas por religiões politeístas ou monoteístas, que forneciam à população seus sistemas de orientação e de devoção, sem interferências significativas do racionalismo científico, como acontece em nossos dias. Diante desta ausência, as metafísicas filosóficas ou religiosas atuavam livremente, e não tinham outros sistemas de referências como concorrentes. Podiam, portanto, estabelecer suas verdades a uma população sem outro referencial teórico, sem que a coletividade tivesse alternativas para expressar seus anseios, pois as dissidências, tão comuns na vida dos sistemas monoteístas, surgiam como oposições no campo metafísico. Mas em nossa sociedade, às metafísicas religiosas ou filosóficas opõe-se um sistema de ideias baseado no racionalismo científico lógico ou dialético, que em muitos aspectos choca-se com os princípios metafísicos dominantes atualmente. Ao criacionismo, opõe-se o evolucionismo, ao surgimento do universo baseado no criacionismo, opõe-se a teoria científica do Big Bang, ao universo com limites no céu supralunar, opõe-se um universo expansivo e sem fronteiras definidas. Atualmente, estas dicotomias não se colidem porque os monoteísmos predominam como sistemas de orientação e de devoção da imensa maioria da população, enquanto os conhecimentos fundamentais sobre as ciências ainda são privilégios de cientistas, mais preocupados com suas pesquisas do que em divulgar à coletividade seus princípios científicos. Mas os conhecimentos científicos escapam dos laboratórios dos cientistas e alojam-se nos laboratórios das grandes empresas, cuja produção industrial depende da capacidade dos seus técnicos em transformar teorias científicas em tecnologias de ponta aplicáveis no sistema produtivo direcionado ao consumo coletivo. E através desta transformação, as técnicas originárias dos princípios científicos atingem a população através de mercadorias de envolvente sedução de consumo entre a coletividade. A energia elétrica tirou a população das trevas culturais transmitida pelas tradições orais, e iluminou uma nova civilização, à qual cada vez mais os sistemas metafísicos precisam fazer concessões de princípios inimagináveis em dois ou três séculos passados. Ao trocar o cavalo pelo automóvel ou pelo avião, a humanidade abriu espaços geográficos e culturais imensamente maiores, e até então insuspeitos. Ao incorporar ao tradicional critério de transmissão oral da cultura, o jornal, a televisão e agora a internet, transformaram o mundo em uma aldeia global, com sua cultura colocada ao alcance de todos. E quando chegar ao planeta Marte, reforçaremos a nossa condição humana de viventes interplanetários. Já pertencem às brumas dos tempos a época em que a visão de um cometa era interpretada como sinal de castigo divino ou do anúncio do Apocalipse. Hoje, a presença deste astro é considerada cientificamente, como resultado do seu deslocamento em sua órbita espacial. Essa visão científica do universo e da vida, popularizada pelo uso da internet talvez não esteja ao alcance das velhas gerações ainda apegadas à cultura tradicional, mas as jovens gerações crescem sintonizadas com esse atraente meio de comunicação, e assimilam seus inúmeros conteúdos culturais. E de posse dessa cultura contraditam os valores tradicionais divulgados pelas suas famílias, escolas e igrejas. Para as velhas gerações, acostumadas aos seus antigos padrões comportamentais, essa atitude das gerações mais novas é desobediência ou mesmo rebeldia, mas aos jovens é a aceitação da cultura produzida pela sociedade científica contemporânea. Aberto o conflito cultural entre as novas e as velhas gerações, em um futuro próximo a balança penderá para as gerações mais novas, pois a elas pertence o futuro.

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