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A diferença entre um liberal conservador e um socialdemocrata é que o primeiro pretende modernizar a sociedade com ações públicas conservadoras, e o segundo pretende modernizá-la evolutivamente. Entre as duas opções a mais viável é a socialdemocrata, pois aceita a dinâmica evolutiva da sociedade contemporânea. Bolsonaro e Fernando Henrique são representantes dessas duas concepções que compõem uma parcela substancial do espectro ideológico contemporâneo. Lula está mais à esquerda das duas tendências ideológicas anteriores, e seu projeto é uma mistura de getulismo renovado com socialismo democrático. Mas todas essas tendências, enquanto teorias funcionam bem, e propõem soluções atraentes para os problemas contemporâneos. Mas na prática elas se atolam nas contradições da realidade social, mais complexa e nebulosa, e resistente às soluções propostas pelas teorias dos agentes públicos. Fernando Henrique e Lula governaram o país com relativo sucesso, que garantiu suas respectivas reeleições na presidência da República. Bolsonaro está em fase de testes do seu governo, e sua reeleição dependerá basicamente do humor do eleitor em relação à capacidade da economia satisfazer o seu desejo de viver equilibrado na corda bamba das cíclicas instabilidades estruturais que freiam ou favorecem o bem-estar da população. Mas um ingrediente ideológico fundamental na avaliação de um candidato à presidência da República pelo eleitor é a imagem que cria do candidato. Acostumado à milenar cultura de sucessivas esperanças em um Messias salvador, o eleitor vota no candidato ungido pela sua fé nesse carisma, ao considerá-lo um novo Messias acima dos limites dos demais candidatos. Esta opção pelo líder carismático e salvador é a fatia irracional da sociedade, que necessita viver de maneira surreal para enfrentar os limites cruéis da existência. Em política, os líderes carismáticos podem ter vida pública efêmera, como Jânio quadros ou Fernando Collor de Melo, ou desfrutar de uma prolongada devoção dos seus eleitores, como Getúlio ou Perón, cujas lideranças se prolongam através do Lulismo no Brasil ou com mais ênfase no peronismo argentino. Outros presidentes, como Fernando Henrique e Juscelino Kubistchek, por formação cultural e personalidades refratárias à idolatria, não foram líderes carismáticos, mas Lula se tornou um carisma nacional ao protagonizar o líder que veio do povo, e, portanto, apto para solucionar magicamente os problemas da população. Bolsonaro, transformado pelo seu eleitorado no Cavaleiro da Esperança conservador, chegou ao poder em uma fase histórica repleta de incertezas para o futuro da humanidade, que requer líderes políticos estadistas, que governem seus respectivos países englobando o conjunto da população mundial, e desapegados de nacionalismos exclusivistas. Esta visão abrangente dos problemas nacionais acoplados às soluções globais, está em fase de ensaios entre vários governantes europeus, mas o conservador Donald Trump caminha na contramão dessa tendência contemporânea, e sua retórica nacionalista inviabiliza a execução desse concerto mundial entre as nações. No Brasil, a notória tendência conservadora de Jair Bolsonaro, que tem o apoio entusiasta dos segmentos sociais da extrema direita, é mais um ingrediente contrário ao amplo diálogo entre os países, proposto pelos líderes mais conectados com um planejamento global. Mas é evidente também que o conservadorismo de Bolsonaro encontra resistências não só entre os segmentos sociais mais sintonizados com a modernidade, mas também das estruturas econômicas da nação. O programa liberal do ministro Paulo Guedes, embora penalize parcelas significativas da população, que dependem das ações públicas mais diretas do Estado, visa modernizar a economia nacional, para tornar o Brasil um país mais competitivo no mercado internacional. Mas a esta fatia liberal do governo Bolsonaro, o presidente contrapõe políticas extremamente conservadoras em áreas vinculadas à educação, cultura e meio ambiente, vitais para integrar o país no contexto contemporâneo. Se solidificar o conservadorismo nessas áreas, Bolsonaro atolará a sociedade brasileira em um charco conservador, que desmanchará parcelas importantes do seu projeto liberal, pois sua população estará despreparada culturalmente para que o país penetre com robustez na globalização não só da economia, mas da cultura contemporânea. Um exemplo de como acontece essa barreira para a convivência em uma sociedade global, é o reconhecido fato de que um mesmo trabalho executado por um trabalhador brasileiro e um norte-americano, aqui demorará uma hora para a sua realização, enquanto nos Estados Unidos essa tarefa demorará apenas 20 minutos. E não porque o trabalhador brasileiro é inferior ao norte-americano, mas porque nos Estados Unidos, o trabalhador tem melhor formação escolar e cultural, e na execução do seu trabalho é auxiliado por um aparato tecnológico do qual ainda somos carentes. Está na hora do eleitor votar mais através da Razão do que votar iludido por falsas esperanças em candidatos carismáticos, intitulados salvadores da pátria.

 

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