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A história da humanidade caminha através de evolutivas sínteses entre seus componentes que se completam. Atualmente parece-nos que caminhamos para uma síntese entre os gêneros masculino e feminino. É o que se deduz da interpretação das teorias analíticas de Carl Jung, um criativo psicólogo contemporâneo e antagônico às teorias de Freud. Jung concebia o Inconsciente humano como uma estrutura existencial formada por duas tendências: Ânimus e Ânima, respectivamente fontes do comportamento masculino e feminino. Para Jung, as neuroses surgem quando essas forças primordiais tornam-se antagônicas, e produzem conflitos existenciais no inconsciente do indivíduo, motivados pela busca de um comportamento exclusivo da personalidade individual. Amparada nestes princípios, a Psicologia Analítica de Carl Jung propõe que a integridade existencial do indivíduo pode ser recuperada quando o neurótico –vítima do conflito inconsciente entre Ânimus e Ânima- superar essa contradição e integrar-se à síntese desse antagonismo, pautada pela manifestação livre e conciliada entre essas forças primordiais. Fruto de uma época em que o nascente capitalismo industrial requereu o trabalho das mulheres principalmente nas fábricas inglesas, as teorias de Jung são um exemplo de como as teorias culturais surgem como respostas revolucionárias aos novos problemas históricos surgidos em uma sociedade dinamizada pela sua evolução estrutural. Ao trabalhar como operária nas indústrias, a mulher, até então considerada a portadora exclusiva das virtudes femininas, das quais se destacavam sua fragilidade e sua vocação para os serviços do lar, demonstrou que poderia exercer com a mesma eficiência os trabalhos considerados até então exclusivos do homem. Desde essa época multiplicaram-se as teorias feministas, que demonstram ser a frágil feminilidade exclusiva da mulher uma preconceituosa visão de mundo propagada pelo homem, que intitula-se a parcela mais forte e hegemônica da sociedade. Mas, na mesma época do surgimento das teorias de Jung, esse patriarcado cultivado pelos machos sofreu outros golpes com as conclusões de outras ciências, como a Antropologia. Através das pesquisas pioneiras dos antropólogos Morgan e Bachofen, a Antropologia demonstrou que antes das sociedades primitivas patriarcais, dominadas pelo homem, existiram sociedades matriarcais, dirigidas por mulheres. Embora criticadas pelos antropólogos funcionalistas, as teorias de Morgan e Bachofen contribuíram para quebrar as asas e o bico da argumentação machista. E ao longo do século 20, outras ciências demonstraram a validade da teoria freudiana, segundo a qual não há instintos masculinos e femininos. Para Freud, há instintos de vida e de morte no inconsciente, que se manifestam independente do gênero humano. Incentivados pelas ciências, e mobilizados pela força das ideologias progressistas, surgiram muitos movimentos feministas, que defendem os direitos da mulher, e contribuem para enfraquecer a arrogância machista, que diante da falta de uma teoria justificadora dos seus dos seus preconceitos, recorre aos atos de agressão a uma sociedade mais receptiva ao convívio fraterno entre Ânima e Ânimus. Se os movimentos dos gays, das drag-queen e de outras minorias ainda assustam uma parcela da sociedade pelo seu exotismo extremado, mansamente, e pouco notado, no cotidiano da sociedade há um comportamento, principalmente entre a juventude, que ameniza as disparidades entre o comportamento do homem e o da mulher. Os jovens de hoje cada vez mais se retraem do comportamento machista dominante até os meados do século passado, e tornam-se cada vez mais dóceis e liberados das exigências compulsivas de outrora, quando de se exibirem como macho man. Por sua vez, as jovens abandonam o ideal de pertencer ao sexo-frágil em busca da neurótica proteção masculina, e clamam por sua independência da ideologia machista. Atualmente, as jovens não se preparam prioritariamente para o casamento, mas para conseguir uma profissão que consideram compatível com a vocação de sua personalidade. E quando necessário concorrerem com os homens nas profissões até recentemente consideradas exclusivamente masculinas. E assim, na sociedade contemporânea, científica, tecnológica e pós-industrial, Ânima e Ânimus, nossas forças primordiais localizadas no íntimo de nosso inconsciente, chegarão a um convívio íntimo acasalador, cujas consequências salutares serão benéficas para o conjunto da humanidade.

 

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