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A evolução das sociedades acontece através das lutas de classes, com minorias privilegiadas oprimindo as imensas maiorias deserdadas, e estas lutando contra a opressão dos seus algozes. Essa opressão é exercida pelo poder, monopolizado pelas minorias oligárquicas, que o exercem através da violência explícita ou dourada em formas adocicadas. Além da força bruta, historicamente as oligarquias dominantes utilizam-se dos sistemas religiosos para iludir a maioria, e mantê-la sob o seu domínio. Entretanto, essa aliança nem sempre é evidente para a maioria da população, incapaz de perceber o conluio desse acordo. Pelo contrário, oprimida pelas minorias, essa maioria recorre aos sistemas de devoções dominantes como uma compensação aos seus sofrimentos, e geralmente encontra nessas promessas a certeza de uma vida feliz no além, onde terá o conforto para sua vida miserável aqui no planeta. No Egito antigo, os faraós aliaram-se aos sacerdotes do deus Amon-Ré ou de Osíris, e através dessa aliança conseguiram durante a existência desse império antigo dominar o conjunto da sociedade egípcia, governando-a segundo seus interesses oligárquicos. Foi essa aliança explícita entre faraós e sacerdotes que sustentou a construção das dispendiosas pirâmides, cuja edificação exigiu várias décadas e os esforços esgotantes de milhares de trabalhadores. Foram energias consumidas para a edificação de um templo colossal, com a finalidade de garantir a vida eterna do faraó, pois sua imortalidade era a garantia de que o império e o povo egípcios teriam também vida eterna. Ou seja, um engodo ideológico que colou na população, e garantiu a exploração do povo egípcio pela casta dominante, da qual os faraós, seus familiares, a nobreza, o clero e os grandes proprietários foram os protagonistas privilegiados. Mas quando esta exploração tornava-se demasiadamente onerosa para a população egípcia, segmentos destacados dos explorados revoltavam-se contra as arbitrariedades das minorias privilegiadas, e colocavam em risco a eficiência do sistema de poder. Iniciava-se então um dramático hiato no sistema dominante, que exigia dos donos do poder o apelo à violência armada das forças repressivas mantidas de plantão para garantia da ordem opressora. Essa intervenção militar repunha a ordem anterior, mas muitas vezes à custa da troca no comando do poder institucionalizado, conduzindo à formação de novas dinastias de governantes, mas empenhadas na continuidade da exploração dominante. E ao proporcionar ao povo uma aparência de liberdade da opressão, as novas dinastias começavam a governar, mas mantendo o tradicional sistema de poder através de critérios ilusórios, mas eficientes. E assim, ao longo das civilizações que historicamente se sucederam, a exploração das maiorias pelas minorias renovou-se ideologicamente, com novas roupagens ideológicas, mas sem mudar o seu conteúdo explorador.
Este exemplo histórico revela o critério anarquista de analise de como as sociedades são sustentadas, através de uma evolutiva troca de minorias que sistematicamente exploram o conjunto da sociedade, e realizam o caminhar da História, desde o fim do período tribal até aos dias atuais. O anarquismo é uma visão de mundo surgida a partir dos meados do século 19, como uma necessidade histórica de compreender a vigência da exploração brutal do proletariado urbano pelos capitalistas nas indústrias nascentes, principalmente nos subúrbios das cidades inglesas, no início do capitalismo industrial. Este período foi uma época favorável ao florescimento de muitas análises históricas e sociológicas radicais e libertárias, que propuseram indicar os caminhos da libertação dos proletários da exploração capitalista. Nessa época houve uma convergência de interpretações diferenciadas, que propunham superar essa exploração, algumas moderadas, como o liberalismo e o sindicalismo reformista, outras radicais, como a socialista e a anarquista, mas todas centradas na injusta relação entre capital e trabalho. Dessas teorias, a mais radical foi a anarquista, que, através de suas variantes, propôs a formação de uma sociedade libertária e anárquica, isto é, na qual o poder das minorias seria eliminado, cedendo à formação de associações livres de trabalhadores, que democraticamente guiassem os rumos da sociedade na qual o Estado se transforma em um sistema administrativo visando o bem-estar coletivo, e não mais um instrumento de domínio das classes dominantes. Ativos no movimento operário até os meados do século passado, os anarquistas perderam sua força nos últimos tempos, mas sua análise histórica persiste como um patrimônio da humanidade em defesa da liberdade coletiva e individual válido para o período atual permeado pela crise do capitalismo.

 

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