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Em política, os extremos se encontram ao fechar a curva do círculo. Lulismo e bolsonarismo se opõem ideologicamente, mas ambos se identificam através de suas intransigências e dos seus sectarismos. Lulistas se intitulam socialistas, e bolsonaristas se dizem nacionalistas. Ou seja, ambos se isolam em uma redoma ideológica incompatível com a pluralidade e os caminhos da sociedade contemporânea. Lulistas priorizam as reivindicações dos trabalhadores, os bolsonaristas priorizam os interesses do capital, mas não entendem que o capitalismo e o socialismo não se excluem, pois no fechamento do círculo diluem-se na socialdemocracia. As prematuras experiências socialistas fracassaram porque ao desapropriar os empresários, o Estado assumiu a direção da sociedade, e transformou-se em um gigante autoritário que vetava a diversidade das experiências econômicas e políticas. O capitalismo liberal, dominante até inícios do século 20, fazia do liberalismo um instrumento de explorar brutalmente o assalariado, colocando em risco a existência de quem produz sua riqueza. O socialismo soviético foi expressão do desespero dos assalariados e da intransigência dos capitalistas, que não percebiam a dinâmica evolutiva do capitalismo. Ou seja, segundo o capitalismo contemporâneo é fundamental proporcionar bons salários e condições de vida para o assalariado, para que essa classe consuma a produção capitalista. Como o socialismo estatizante e o capitalismo liberal não conseguiram superar o impasse causado pela desigual distribuição da riqueza, surgiu a teoria socialdemocrata como uma alternativa aos extremos representados pelo socialismo e o capitalismo liberal, ao propor um Estado de bem-estar social. Esta tendência é predominante entre os países mais desenvolvidos da sociedade contemporânea, que está proporcionando resultados animadores, pois além de distribuir melhor a riqueza produzida no capitalismo, amplia as liberdades individuais. Mas essa evolução não é contínua e sem interrupções, pois a dinâmica da sociedade se realiza através de contradições, como as ondas do mar, entre as altas e baixas marés, mas caminhando para frente.
O Estado do bem-estar social requer a democracia, a divisão entre os poderes legalmente constituídos, e garante as liberdades individuais. Mas a liberdade exige conhecimento do que se pretende, e conhecimento se opõe à frágil opinião. Em política, como em outros campos do conhecimento, a maioria da população opina segundo suas próprias opiniões, baseadas no preconceito e na escassez do conhecimento alicerçado em uma análise sistemática desta ciência, chamada Política. Para se curar, um doente consulta um médico e não se medicamenta. Para garantir os seus direitos, o injustiçado consulta um advogado e jamais faz justiça de acordo com sua opinião. Mas em relação à Política, a maioria da população julga-se capacitada para argumentar apenas através dos seus limitados conhecimentos quotidianos. E o resultado dessa arrogância é o surgimento de visões limitadas e facciosas sobre tudo que envolve a política da cidade, do país e do conjunto da sociedade. Estão nestes limites as origens dos sectarismos ideológicos que, ao longo da vida civilizada, geram o estreitamento da complexidade que envolve a solução dos problemas humanos, e produzem ideologias autoritárias e excludentes, como o lulismo e o bolsonarismo. Como nas ondas, no Brasil vivemos um momento político de refluxo histórico, no qual parcelas da sociedade dividem-se entre lulistas e bolsonaristas. Ambos se opõem em seus discursos ideológicos, mas no fechamento do círculo se identificam através de suas limitadas soluções políticas diante de uma sociedade que evolui para a internacionalização da economia e da cultura, na qual o nacionalismo e comunismo são fantasmas que sobrevivem apenas na imaginação de quem não visualiza o futuro, e fecha-se em seu círculo de dogmas e fantasias. E quando esses dogmas se transformam em Programa de Governo, a sociedade corre o risco de mais um retrocesso político, permeado pela supremacia dos sectarismos ideológicos. E devido a essas inflexibilidades, lulismo e bolsonarismo tomam dimensões desproporcionais ao que realmente representam.

 

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