PUBLICIDADE

Dialogar com um lulista é tão inútil como dialogar com um bolsonarista, pois ambos têm miolos de concreto, impermeáveis ao argumento racional. Embora ideologicamente opostos, lulistas e bolsonaristas se identificam na maneira de raciocinar, pois ambos são sectários e argumentam através de fórmulas prontas, como o paciente que toma o remédio sem ler a bula para saber quais são seus conteúdos. Há lulistas e bolsonaristas intelectualizados, como o caso de uma reconhecida intelectual, com vários livros escritos, que no auge do lulismo afirmou que “quando Lula fala, tudo se esclarece”, mas após as evidências das maracutaias ocorridas durante o governo de Lula, essa intelectual se preservou ao retirar-se do cenário político. Mas lulistas e bolsonaristas de carteirinha não primam pela lucidez, pois estão distantes dos tempos atuais, e seus referenciais teóricos são os mesmos das décadas 50 e 60 do século passado. Naquela época, a esquerda brasileira culpava o imperialismo norte-americano pelo atraso econômico predominante na sociedade brasileira, enquanto a direita taxava de comunista toda tentativa de desenvolver o país através das reformas necessárias para destravar o Brasil do sudesenvolvimento. Esse tempo passou, o país se desenvolveu, e o asfixiante clima político internacional dos anos 50 e 60 desvaneceu-se, mas os lulistas continuam cultuando o advento de um Estado gestor da economia como a vanguarda do nosso desenvolvimento, enquanto os bolsonaristas continuam encontrando comunistas escondidos em cada esquina da cidade onde residem, e alguns até defendem o retorno da ditadura militar. E através desta estreiteza ideológica conseguem criar uma falsa imagem da atual realidade brasileira. O lulismo é uma esquerda que não se atualizou, e o bolsonarismo é uma direita que se diz liberal, mas esqueceu-se de que o liberalismo é uma teoria econômica em crise, e está gerando uma perigosa política protecionista em vários países desenvolvidos, respaldada pela guerra comercial entre Os Estados Unidos e a China. Mas lulistas e bolsonaristas são incapazes de assimilar as contradições que permeiam a sociedade atual porque o raciocínio de ambos é simplista demais, pois reduzem a complexidade dos problemas a uma equação com dois elementos, cuja solução é a eliminação do adversário da cena política. E desse simplismo advém o círculo acusatório: -para os lulistas a culpada da crise é a direita reacionária, mas para os bolsonaristas a culpa é do PT. E essas insanas acusações mútuas poluem o ambiente político nacional, e dificultam o desencadeamento de uma ação política mais robusta e realista que contribua para a solução da longa crise econômica e social que afeta a nossa sociedade, e atinge principalmente a classe trabalhadora. Lula e Bolsonaro são líderes dotados de fortes personalidades, capazes de despertar em parcelas significativas do eleitorado a crença adormecida de que a solução das grandes crises exige o comando de um líder forte, que ilumine as trevas com sua luminosidade resplandescente. Mas como a dura realidade repele os misticismos e as magias, os líderes carismáticos inicialmente correspondem às falsas esperanças depositadas por seu eleitores, mas acabam decepcionando o conjunto da coletividade que permitiu sua chegada ao poder. A História está repleta dessa tragédia, que teimosamente se repete ao longo da vida civilizada. Em Roma, vários imperadores foram vítimas de sua ambição, na Itália moderna tievemos o exemplo do fim trágico de Mussolini, na Alemanha nazista, o carismático Hitler pagou caro pela sua megalomania, no Brasil o presidente Getúlio Vargas suicidou-se, Jânio Quadros renunciou à presidência e Fernando Collor de Melo foi deposto pelo Congresso Nacional. Jânio e Collor foram eleitos porque eram hábeis manipuladores das fraquezas humanas, e não pela condição de estadistas, virtude necessária para exercer o governo. Jânio empolgou as multidões através de um infantil slogan eleitoral, prometendo varrer do governo os corruptos e os incompetentes. Esquecido esse calote eleitoral, depois de 20 anos, Collor renovou o mesmo slogan janista, elegendo-se com o título de Caçador de Marajás. E no epílogo desse conto, o marajá cassado foi o caçador. Estas são algumas lições várias vezes repetidas, talvez para que o eleitor aprenda a votar, e não vote em líderes carismáticos, que surgem em épocas de crise, e acabam decepcionando a maioria do eleitorado. Mas como lulistas e bolsonaristas continuam se acusando, fica no ar a pergunta: -Desta vez o eleitor aprendeu a votar?

PUBLICIDADE