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Desde crianças fomos ensinados a organizar as cadeiras assim que saímos da mesa. Faz parte de um dos mandamentos que ouvimos dos nossos pais desde a nossa tenra idade. Curioso como este “falar” transcende o tempo e é capaz de se perpetuar nas gerações seguintes.
Longe de qualquer contrariedade, costumo organizar as cadeiras da mesa assim que saio dela. Faz parte de uma rotina imperceptível sem ao menos que eu tenha parado, nem mesmo por um instante, para pensar sobre isso. Nada de estranho nisso, afinal, o que me levaria a pensar sobre algo que não sou – era, talvez – capaz de notar?
Pois bem, em contraponto a isso, certa noite após o jantar em família, levantamos e nos retiramos da mesa. Como de costume cada um seguiu para o seu canto da casa. Mais tarde, naquela mesma noite e um pouco antes de dormir fui até a cozinha para tomar um copo de água e percebi que as cadeiras não haviam sido organizadas. Rotineiramente em um ato mecânico, organizei-as. Isto ocorreu por mais duas ou três vezes até que, numa nova noite após o jantar, as cadeiras se encontravam desorganizadas novamente. Antes mesmo de seguir o instinto de organizá-las, parei para refletir que, os jantares têm como o principal tempero, a efemeridade. Curioso pensar que, apesar do resultado deste tempero ácido que consome o tempo vorazmente, as cadeiras se mantiveram ali, do jeito que as “desorganizamos”. A reunião familiar, acabada a pouco, havia sido eternizada nas posições em que as cadeiras se encontravam. Mantiveram eternizadas em si, um diálogo que tomou o lugar da efemeridade. Elas permaneceram ali, sem pressa, apenas como um registro daquilo que se foi e ao mesmo tempo permaneceu.
A história se repete; as cadeiras se encontram a cada dia em uma nova e única “desorganização”.

Bruno Trevizan

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