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Li emocionado várias biografias do pensador radical Karl Marx, o intelectual que no século 19 estabeleceu os fundamentos teóricos do socialismo. Nasceu na Alemanha, formou-se em Direito, e casou-se com Jenny, sua inseparável companheira, que participou ativamente da vida intelectual do marido. Expulso da Alemanha e exilado na Inglaterra, encontrou nesse país o filho de um industrial, Friedrich Engels, que se tornou seu parceiro e responsável por parcelas importantes do legado intelectual produzido ao longo de um relacionamento solidário. Marx teve uma vida intelectual revolucionária e criativa, cuja contribuição para a formação da sociedade contemporânea é inestimável, embora desconsiderada pelos seus inúmeros opositores e desconhecida pela maioria da população. Em parceria com Engels, Marx escreveu livros polêmicos e bombásticos, como A Ideologia Alemã e o Capital, obras fundamentais para a análise e o conhecimento sobre o que hoje é denominado de marxismo. Marx escreveu toda sua obra e viveu em condições precárias, vigiado pelos governos dos países onde residiu, importunado pelos seus credores e envolto em seus dramáticos problemas familiares decorrentes de suas constantes dificuldades financeiras. O círculo intelectual que se formou em torno de Marx era formado por intelectuais radicais, envolvidos nas cadentes questões sociais daquela época. Opositores do capitalismo canibal imperante naquele período, esses intelectuais tinham uma vida atribulada e repleta de situações inesperadas. Perseguidos pelos governos, com dificuldades para conseguir empregos estáveis, alheios às suas dificuldades pessoais, e mais preocupados em encontrar caminhos para a superação da miséria coletiva, esses intelectuais eram homens resolutos, imperativos e quase sempre intratáveis. Estas circunstâncias tornavam esses círculos intelectuais opositores aos valores dominantes da sociedade barulhentos, alvoroçados e plenamente identificados com sua obra revolucionária. Como Marx, eram intelectuais ilustrados com amplos conhecimentos das contradições da sociedade onde viviam. Jogados na ilegalidade pela intransigência dos governos conservadores refratários a um mínimo de alterações no sistema de produção, conseguiam apenas um ou outro emprego esporádico, mas acostumavam-se à vida miserável e insegura que levavam. Raramente suas obras eram impressas e divulgadas, obrigando-os muitas vezes a publicá-las com seus módicos recursos financeiros, geralmente ganhos através de colaborações em jornais que ousavam aceitá-los como colaboradores. Com Marx a sobrevivência familiar era precária, e mantinha-se com algumas publicações em jornais norte-americanos mais liberais, e da contribuição financeira de Engels, que falsificava a contabilidade da empresa do pai onde trabalhava para financiar a vida do amigo revolucionário. O período em que Marx viveu foi dramático principalmente para a classe operária, assalariada nas indústrias e sobrevivendo com salários aviltantes e insuficientes para o sustento familiar. Identificado com a situação miserável desse proletariado, Marx suportou sua própria miséria para escrever uma obra revolucionária, que anunciava a implantação do socialismo como a alternativa histórica para a redenção do proletariado. Ligou-se sistematicamente a líderes revolucionários, defensores do socialismo, e liderou a formação da Primeira Internacional, associação através da qual pretendeu unificar o proletariado mundial para construir o socialismo. Marx deixou um ideal adotado por muitos intelectuais que tiveram contato com sua obra, e influenciou o movimento socialista mundial, que embora ainda não implantado no planeta, contribuiu significativamente para melhorar a situação do proletariado na sociedade contemporânea. Enquanto viveu Marx foi combatido por seus inúmeros opositores, e apesar de sua fama internacional, quando faleceu seu sepultamento foi acompanhado apenas por uma dezena de amigos fiéis. Sua herança é cultural, produzida em circunstâncias difíceis, quando o dinheiro significou pouco.

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