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Sou um recém-formado em enfermagem, e nos campos de atuação do enfermeiro me apaixonei pelo ensino, pela docência. A atribuição mais plena do enfermeiro é a educação, que em saúde ganha diversos segmentos como: Educação em Saúde, Educação Popular em Saúde, Educação Permanente em Saúde e Educação continuada. Cada nomenclatura condiz com formas de educar em formatos diferentes. Então, o enfermeiro torna-se educador quando faz atividade de prevenção, na orientação ao paciente, quando capacita sua equipe, quando estimula a participação social e comunitária nas ações de saúde e quando realiza formação de profissionais de nível técnico e superior. Nesse sentido, temos a clareza de que o enfermeiro foi pensado para ser antes de tudo um educador.
Desta forma, ao decorrer do texto, irei contextualizar sobre os formatos do ensino em saúde no Brasil e a importância da discussão da educação emancipatória como mecanismo de transformação social da realidade.
A comunidade científica vem tratando a tempo sobre a qualidade do ensino em saúde no Brasil.
O que trago aqui são as seguintes reflexões.
• Será que a formação profissional do ensino em saúde deve se limitar ao ensino instrumental de técnicas e procedimentos e esquecer-se da multidimensionalidade social que envolve o individuo, família e comunidade?
• Como ativar o agente político-transformador nos profissionais para exercer um cuidado pleno e com condutas viáveis e acessíveis?
Conto-vos um exemplo que me chamou a atenção. Uma vez um dentista orientava insistentemente um senhor para que escovasse seus dentes após as refeições, uma vez que o mesmo apresentava-se com constantes cáries, e essas cáries não cessavam, a cada mês aparecia uma nova. No consultório, o dentista pergunta enfadado ao senhor – Senhor João, o senhor não está realizando a escovação após as refeições da forma como orientei? Responde o senhor espantado – Estou sim doutor, todo dia acordo cedo, como minha mistura de fubá com água e escovo os dentes. Insistente pergunta o dentista com ar irônico – Ok, e depois do almoço, da janta o senhor não escova? Tímido responde o senhor – Essa é minha única refeição.
• Não passou pela cabeça desse profissional qual seria a realidade deste senhor antes de realizar qualquer recomendação?
• Como que as orientações dos profissionais de saúde geram impacto sem o profissional compreender o ser social que esse indivíduo representa?
Este caso é uma das histórias que ouvimos e presenciamos como forma da reprodução do ensino em saúde no Brasil, o qual é geralmente limitado, de forma extremamente mercantilizada, onde o tempo e os procedimentos valem muito e requer uma agenda de mercado, tomando de assalto a qualidade e a integralidade das ações dos profissionais.
Outra história que sempre conto aos alunos é de uma enfermeira que não acreditava que o paciente comia papelão, achava que as pessoas (vizinhos) estavam mentindo e demorou cerca de 6 meses para realizar uma visita domiciliar e quando chega na casa se depara com uma panela de pressão em cima de um tacho com lenha e fogo, e dentro um ensopado de papelão. Ao se deparar com a cena fica pasma e sem ação.
Elevando novamente uma pergunta. O que se ensina no ensino em saúde? Qual realidade é passada para esses profissionais? Porque o ensino não prepara os profissionais para a ação?
A partir dessas demonstrações coloco aqui a importância de uma educação voltada para realidade social, autêntica, libertadora, que ative o agente político do profissional e o mesmo compreenda a função das políticas públicas e a importância do seu papel no cenário da saúde pública.
A educação em saúde deve ultrapassar o aparato tecnológico, deve se debruçar nos livros sociais, nas condicionalidades e determinantes em que a população está sendo colocada e a partir disso remodelar o tradicional ensino em saúde, trazendo à tona a verdade social.
Precisamos menos de educação técnica, bancária, procedimental, e mais profissionais autônomos nas relações e transformadores, utilizando o seu papel de agente social emancipado para a transformação crítica da sua realidade e da coletividade.

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