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Em dias de aniversário, colocamos nossos holofotes sobre o aniversariante, e enaltecemos suas qualidades, que em outros dias permanecem adormecidas no recôndito de cada um. Quando aniversariamos, recebemos as felicitações de amigos e conhecidos, unânimes e simpáticos com nossa maneira de viver, e tolerantes com nossos deslizes. Essa suspensão temporária do julgamento mais rígido do aniversariante é uma reprise dos domingos, dias semanais de confraternização e de apaziguamento da vida. Portanto, precisamos comemorar essa data como os hebreus antigos comemoravam o dia semanal do Sabat, quando era proibido qualquer tipo de trabalho como demonstração de paz e solidariedade com a natureza, mantendo-a imune a nossas interferências.

Nossa solidariedade com o aniversariamente é tão ampla e generosa, que o deixamos à vontade para pedir em seu dia o que ele mais desejar para sua vida. Mas essa nossa maliciosa benevolência se revela como um critério de conhecer quem é o aniversariante, pois em seu desejo ele revela quem realmente é. No conto Bontsha, o Silencioso, do escritor polonês Isaac Leib Peretz, depois de sofrer silenciosamente infinitas humilhações ao longo da sua vida, Bontsha revela sua virtuosidade ao ser recebido solenemente no céu pela legião de anjos, acompanhados pelo próprio Criador. Depois de ouvir caladamente os elogios do Criador pelo seu exemplo de vida, Bontsha sorri pela primeira vez na vida ao saber que por merecimento poderia pedir o que desejasse para desfrutar de uma vida feliz na eternidade. Seu pedido emocionou as almas quando ele expressou seu desejo: “-Nesse caso, Excelência, eu gostaria de ter todos os dias, no café da manhã, um pãozinho quente com bastante manteiga.”

O dia do nosso aniversário é um momento propício para refletirmos sobre nossa existência, independente das felicitações que recebemos. E se um amigo sincero se dispuser a presentear-nos de acordo com nosso pedido, nossa escolha será uma demonstração da nossa personalidade. Como nós, a nossa cidade tem sua personalidade, que é o resultado da sua história, ou seja, do que as sucessivas gerações de cesariolangenses fizeram por ela. Há, portanto, uma simbiose inseparável entre os indivíduos e o coletivo formado pela sua cidade. Cesário Lange é o que fazemos por ela, é cada um de nós. E nesta data especial, se fazemos nossas exigências em relação a esta nossa cidade, como um bumerangue, elas voltam para nós, e conduzem-nos a refletir sobre nossa própria vida.

Aqui os cesariolangenses nasceram, estudaram, muitos casaram e trabalham. O trabalho de cada um é o mais representativo impulso para a vida coletiva e o crescimento desta cidade. E como trabalhadores, construímos tanto nossa vida como a vida coletiva de Cesário Lange. Como viventes, não escapamos dessa dualidade vivida: -se desejamos ter uma vida feliz em nossa cidade, precisamos construí-la da melhor maneira que conseguirmos. Ter consciência dos seus limites e de suas virtualidades é sentir-se responsável por essas contradições que mobilizam a vida individual ou coletiva. É como caminhar para o amanhã, e não para ontem, quando a consciência do cidadão atingia em menor grau sua interação com o coletivo, pois cada vez mais evidencia-se que vivemos coletivamente, integrados em células denominadas município, e nos integramos em uma comunidade maior denominada humanidade.

Mas para comemorar coletivamente mais um aniversário de Cesário Lange, o essencial é desejar a esta nossa cidade o que desejamos para nós, pois todo desejo compartilhado tem um conteúdo individual e solidário, já que todo ganho coletivo reverte-se em benefício pessoal. Se amamos esta nossa cidade, e nos consideramos aniversariantes, nesta data agiremos como Bontsha. Ou seja, dos inúmeros benefícios que nossa cidade pode nos oferecer, solicitaremos o essencial à nossa felicidade: -o pão nosso de cada dia, pois o restante é apenas vaidade, como nos alerta o bíblico Eclesiastes.

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