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Com exceção do Budismo, centrado mais no aperfeiçoamento dos seus seguidores no cotidiano, as demais religiões dominantes na sociedade contemporânea, devido aos seus compromissos doutrinários com suas origens, continuam mais preocupadas com os destinos da humanidade na eternidade, a sucessora da vida aqui no planeta. Embora necessária segundo a visão dessas religiões, centrar sua preocupação com a salvação da humanidade no além e após à morte, é uma estratégia doutrinária insuficiente, diante dos novos problemas que afetam a humanidade em nossa sociedade científica e tecnológica. Saudadas pelos Iluministas no século 18 como agentes da libertação humana dos seus grilhões do passado, a ciência e a técnica, manipuladas pelo sistema capitalista, embora criadoras de um desenvolvimento espetacular, tornaram-se os fatores fundamentais da destruição do planeta Terra. O alerta das consequências catastróficas dessa destruição vem dos próprios cientistas, cujas pesquisas indicam que em pouco mais de duzentos anos de avanços tecnológicos indiferentes com o desequilíbrio ambiental, o planeta sofreu devastações alarmantes e irreversíveis se a nossa geração não se conscientizar em corrigir essa a vassaladora marcha destrutiva. Embora esse alerta dos cientistas tenha mobilizado os segmentos mais sensíveis e conscientes da nossa sociedade contra essa destruição, sua força encontra a indiferença e mesmo a resistência da maioria da sociedade, magnetizada pelos confortos proporcionados pelo progresso tecnológico. Aviões supersônicos, com mais de 200 passageiros, que cortam o ar e diminuem o tempo entre as distâncias são saudados pela maioria da humanidade como demonstrações de que a tecnologia veio para melhorar a nossa vida. Dar um celular para uma criança de tenra idade brincar com seus joguinhos é uma didática que os pais consideram uma alternativa para entretenimento dos seus filhos, e alívio para mães preocupadas com seu serviço doméstico ou com o trabalho na empresa onde trabalham. Ou seja, desde sua tenra infância as crianças cada vez mais são treinadas para assimilar a vida tecnológica que predomina em nossa sociedade. Não se trata de ser contra o avanço tecnológico, que bem conduzido contribuirá para a organização de uma sociedade na qual a humanidade terá jornadas de trabalho reduzidas, com tempo livre para se dedicar às artes, ao lazer e à meditação sobre os paradoxos da vida. Mas para atingir esse alto nível de vida civilizada, a humanidade precisa despertar dessa ilusão de que o atual modelo de desenvolvimento mundial acentuado na destruição do planeta é o caminho da felicidade. E para inverter esse caminho e tranformá-lo em um desenvolvimento identificado com a condição humana, é fundamental a introdução de uma ideologia humanista adequada à realidade da sociedade contemporânea. E este humanismo partirá do conhecimento dos sistemas filosóficos e religiosos produzidos no passado por guias espirituais, como os filósofos e os profetas, coerentes com seus princípios, mas que sejam aplicáveis à condição histórica dos viventes em nossa sociedade. Ou seja, o humanismo ensinado no passado precisa transformar-se em um humanismo contemporâneo, acrescido dos conhecimentos adquiridos pelo mundo moderno. Pensamentos como “O homem é a medida de todas as coisas” ou “Conhece-te a ti mesmo” anunciados pelos filósofos gregos da antiguidade continuam aplicáveis a todos nós, mas necessitam dos conteúdos ideológicos modernos, adequados à nossa realidade. Assim, a sentença de Aristóteles “A essência precede a existência”, foi corrigido pelo nosso contemporâneo pensador existencialista Jean Paul Sartre que afirmou “A existência determina a essência.” Do mesmo modo, as grandes religiões monoteistas da atualidade precisam incorporar aos seus ensinamentos princípios ecológicos que destaquem o homem como pertencente à natureza, e supere a milenar arrogância humana que considera a natureza como instrumento para servir a sua voracidade. Se as atuais religiões monoteistas não alertarem seus seguidores para a necessidade de inverter o atual modelo econômico destrutivo para um modelo humano adequado ao bem estar da humanidade, no futuro próximo não restarão islamismo, cristianismo ou judaismo para lamentar a destruição da humanidade, abraçada em um meio ambiente degradado, que um dia já foi o paradisíaco Eden, habitado por nossos pais arquétipos.

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